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  Tudo bem aprender teorias brancas, ter só professores brancos, frequentar eventos brancos, andar apenas com pessoas brancas. Mas se uso só teorias pretas, se desejo só professoras pretas, se prefiro só eventos pretos, se busco andar apenas com pessoas pretas, chamam-me de radical, identitarista e outros caralhos. Exigem diversidade de tudo,  menos de cores. Ah, e se eu narrar todos os horrores de um corpo descartável para o sistema, não vão querer dar voz, apenas vender. Juliana Sankofa Fonte da imagem: Pinterest  https://pin.it/13hMjJJOD
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Ninguém me ensinou a amar,o amor, para mim, é metáfora desconhecida, que não me assume publicamente e nem segura na minha mão. O amor não goza comigo, não me declara nada todo o Santo Dia O "amor" me dá buquê de flores de Chernobyl tem mil perfis que parece miragem daquilo que eu preciso e o meu corpo me pede. O amor, se fosse uma mulher de cem anos, eu a pediria em casamento, assustando toda ordem social por um amar tardio na pele macia do tempo que não me acariciou. Juliana Sankofa Imagem: artista Derrick Ofosu Boateng Fonte: Pinterest
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Caminhante das próprias águas, o mundo é uma encruzilhada de forças femininas, rompendo com tudo que nos reduz a qualquer miséria. Navego de longe, longe do seu horizonte, escrevendo rezas, amor e abraços na tessitura do vento, para que a mensagem chegue em forma de toque na sua rua, no seu endereço. E em um lapso de alegria, danço no barco trêmulo, agradecendo o ritual de sua existência. Juliana Sankofa *** Poema dedicado a Simone Moraes.  Salvador–BA em 2023

SANKOFA,Juliana. Comovida como o Diabo. 1.ed.Viçosa:Edição da autora, 2019. 21p.

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 Preciso escrever com afetos, mas, com as mesmas mãos que escrevo, puxo o pino, levo a pane, explodo imagens, discursos e ideias criadas sobre mim e à custa do meu silêncio. Preciso dizer que sei tocar o sensível, sei beijar gostoso, gozo e sinto tudo ao meu redor. Não sou carne, não sou peça, sou tripla, sangue e sinapses. Ora eu sou o próprio enjoo, vivo o silêncio de um marulhar indescritível. Ora eu sou o mofo irreversível da história da Nação: devoro o arquivo nacional e defeco agrotóxico e exploração. Eu preciso escrever com as minhas próprias mãos, os meus próprios olhos e as minhas próprias lágrimas. Guardem as borrachas brancas, o corretivo e o “delete”. Escrevo nesta língua, porque me foram roubadas outras e me foi imposta esta.                                                                      ...
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Um corpo branco inocente quando sangra, quando morre, exige pena coletiva: nossa morte. Um corpo negro inocente quando sangra, quando morre... quantos tiros? Nenhuma pena, nenhuma culpa, apenas um “caso isolado” no cotidiano da Vida. Ora, não sei o que prefiro: se imaginem sangue em minhas mãos ou uma arma... Mas não importa: tudo inventam, como se os olhos estivessem podres de colonialidade, que não conseguem mais enxergar a própria claridade. Juliana Sankofa Obs: Quando uma mulher morre só é um grande problema se for problema de gênero ou racial? Imagem gerada com IA.
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  E se eu não me curvar? As costas doem mais e a escrita fica sem agência, sem ar. Estradas retas são mais seguras. Eu sou o imprevisto da próxima curva: colido quando não esperam a minha existência. Medos alheios me engolem e me defecam. Deixa-me caminhar entre os sussurros, observando o terreno do audível e do lido... Sento-me com uma xícara branca nas mãos, afiando a caneta, assinando no escuro o que não posso declarar. Juliana Sankofa