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Mostrando postagens de 2015

CURUMIM

Que não nos esqueçamos Ano novo não é pele nova Tempo de comemoração Mas, nas aldeias só há violação Curumim assassinado Pelos que rezam e são protegidos pelo Estado Todo ano o mesmo vício Desejamos paz e amor E não nos comovemos pela alheia dor Das gentes destruídas, forte indício De que no Brasil não respeitamos índio Meus ancestrais conheceram o ferro europeu A marcar sua memória, corpos negros flagelou Em nome da cobiça europeia, Nobre alcateia, Viemos nesta terra já banhada pelo sangue do insubmisso Que como nós também fizeram cativo  Catequizaram...  alguns não se convenceram E a morte foi a cruz   da  fé de quem dizia querer “vosso bem” E é notório o histórico desdém Pelo índio Pelo preto E a proteção é inútil  decreto. A lei não é para índio, pobre ou preto Ano novo E meu corpo se manterá fechado Não brotarão lágrimas, meu coração não será saqueado A resistência é sempre nova Quando eles aproveitam o conforto da alcova Meus irmãos conheceram a

TRAVESSIAS

Meu corpo cheio das marcas das horas A vida a brincar comigo descalça no terreiro de casa Palavras nutrindo asas Ponte... pés... memórias Travessias A cada incerteza um   mar de agoras Medos anônimos Fé indigente Orixá protetor, historicamente, por outros a mim omitido Faz minha cabeça aberta para compreender este mundo, Compreender o porquê das travessias. Luta... lágrimas... sorrisos Gritos ... exigências... persistências Um mar de palavras E um restrito navio de sentidos A querer convencer-me Que “Eu” sou “Eu” Um  “Eu” que pode ser muitas almas A encontrar-se nas travessias                                  Juliana Sankofa (Juliana Costa)  26/12/15

SE PAPAI NOEL FOSSE NEGRO

Se Papai Noel fosse negro seu trenó seria perseguido pela polícia Se reclamasse o chamariam de vitimista  Enquanto alisam sua barba com o ferro indizível de suas ideologias "Natal tempo de paz" A Deus ora o capataz Enquanto as ideias na cabeçam festejam a sentença branca dada ao corpo negro cintilantes balas cortando a preta noite da favela Ai meu Deus! Se Papai Noel fosse negro pintariam o de branco colocariam olhos azuis, o fariam como Cristo. A imagem difundida do íntegro A sociedade nos amaldiçoa com rezas e ladainhas Que negras não podem ser princesas ou rainhas Que negros não podem ser doutores ou bons homens Que a paz é branca, negra é a trevas Que o bom sempre é o branco, incontestavelmente. Querem nos convencer que braçal é o nosso trabalho Que no pensar somos inferiores E que jamais poderemos ser professores E sim servos de madames e senhores Mas não, Papai Noel não é negro Aliás Papai Noel nem existe e mesmo assim cultuá-lo insiste

ANÔNIMO CRISTO

É natal Tempos de paz? Na favela a farda em forma de capataz Faz de todas as noites um momento fatal E a fé tentando ser imortal Se Papai Noel aparecer? Toda criança irá se esconder Pois não se sabe se vem em nome da paz Ou da guerra Enquanto a elite se exalta O pobre soma o que falta Menos Menos Mas Deus é maior E o menino sonha com a mesa farta, A mãe com sorrisos da família toda grata Menino sonha com doces e balas A mãe que ninguém morra de bala perdida Que não aja velas Nem mesmo as de natais Que não tenha lágrimas Nem valas Que Deus suba a favela Embora não se tenha esperança nas rezas Que o sino bata Mais do que o cassetete da polícia no corpo ainda menino De um outro Cristo                                                                                Juliana Costa 21/12/2015

Ei! ABAIXEM O FUZIL!

O governo sabe que milhões de vida, Negra ou indígena. É ceifada por fazendeiros, policiais ou doutores Estes que do poder  são  eternos  senhores. Enquanto no sudeste o povo se mobiliza Em   outras bandas   a mesma gente que grita, escraviza “Fora Dilma”!  Não liberta e nem ressuscita Criança indígena morta   não vira nem estatística Pois vermelho também é a cor dos homicidas População negra na Universidade é conquista Pois se fosse política Era nenhum negro na vala Todos nas salas de aula Enquanto no congresso A gente acompanha o retrocesso Nas aldeias e nas ruas das favelas A cidadania pelo avesso Enquanto sentimos na pele as governamentais mazelas Daquele povo que vota E do eleito omisso que devota Em todas as eras as bocas que gritam Abafam os gemidos Dos verdadeiros oprimidos Guarani Kaiowá  Não tem direito a votar Omissão dada, autorização para matar E tanta gente tranquila militando no sofá Eu quero é marcha

SINHÔRES E SINHÁS DA ACADEMIA

A universidade é vista como a mente social Reduto de sinhôres e de sinhás Mantidos pelo dinheiro colorido Desta nação que é mais preta do que branca O que vemos é dolorido, Pois opressor, aqui, tem entrada franca No quadro negro da sala A hierarquia os egos exala Sinhá não respeita preto Não ensina só discrimina No quadro negro da sala O Sinhó a bunda da negra observa Queria que ela fosse sua serva Mas Isabel aboliu a escravatura Entretanto ainda existe a branca safadeza e falcatrua Sinhôres que são doutores Homens de classe Não sabe compreender  da boca negra uma frase Porém eu repito: - Racistas não passarão. Sei que fingirão E ainda afirmarão que esta poesia é de baderneiro Gente que não trabalha, estudante maconheiro. Mesmo assim os seus  rótulos   ao povo negro nada representa Cale a boca, senta. Sinhás que são doutoras Tituladas opressoras  Não reconhece na negra uma   mulher conhecedora E por isto que

PIQUE - ESCONDE

Na favela o menino dorme Alimentado, pois ele não conheceu a fome Pois os pais trabalham demais para garantir a creche e o uniforme E no silêncio e na escuridão Não se tem medo de bicho papão E o menino dorme Nas ruas balas brincando de pique- esconde Polícia é quem conta E aflição sem saber da onde Lágrimas, o menino não acorda. Lágrimas, o menino não é lázaro Lágrimas, a mãe não é Maria indiferente e fardada é tirania A bala o sonho perfurou E não tem como evitar a dor Pois,a bala foi certeira Menino que ainda não sabia contar Foi obrigado a entrar na brincadeira E jamais  irá acordar.                                                               Juliana Costa 12/12/2015

COMPANHEIRAS E COMPANHEIROS

Que isto companheiro? A minha vida decidida nos dados que por suas mãos são lançados Diz que luta por mim E na verdade quer o meu fim Que isto companheiro? Anuncia sua fé Mas só ama quem tem E para o restante da população nutre preconceituoso desdém Que isto companheira? Levanta a bandeira feminista Mas os problemas das mulheres negras é fortemente omissa Não ver sua empregada como mulher Considera que se a paga, ela tem que fazer o que você quiser. A limpeza da casa deve ser feita como você não faz Impõe a ela brutalidades de um capataz Que isto companheira? Em seu discurso lecionar é preocupação social O giz em sua mão é o cassetete policial Se seus alunos como você não pensam Derrama sentenças que condenam . Que isto companheiro? É militante como eu Entretanto quer um poder só seu Levanta a voz como um falo Só me respeita quando eu me calo E ainda diz que é mais justo o que diz Que isto companheira? Passou por tudo Conheceu de perto o cruel e o absurdo Apanhou como eu

OUTROS DOS OUTROS

Enquanto milito dentro da Universidade O negro da Favela vive um  escroto apartheid Rostos nos  muros Na alma fortes murros Do poder fardado Mãos na cabeça Corpo quebrado Não há  sentimento de mãe que impeça A polícia corrupta e seus autos de resistência Servindo a elite em sua falsa decência Escrevendo o Boletim de Ocorrência com sentidos alterados Menino brincando é suspeito Decidem-se nos dados: Se  é bala no rosto ou  no peito. Outro é o mar Que separa os negros de seus irmãos Que faz com que esqueçamos o porquê do nosso lutar E omissos nos tornamos os outros dos outros Sendo que o opressor sabe ser dos seus um bom irmão Ensinando a arte de oprimir sem receber nenhuma reação.                                                     Juliana Costa 09/12/15

TRIÂNGULO DAS BERMUDAS

Tempos de "tolerância" Matam preto, indígena e pobre em nome da ganância Chamam-nos de vitimistas e sem perseverança Prendem-nos e nem adianta a fiança Letras negras controladas pelo papel branco Parece poesia  ou parece a sociedade? Deixemos de perguntas Pois a sociedade  nos coloca eternamente no triângulo das bermudas                                 Juliana Costa 09/12/2015

TEMPOS “DO QUE CONVÉM”

    O opressor louva a opressão Servem Cristo, servem santos, louvam ditaduras Na boca de quem lhes servem agraciam com ataduras Querem impeachment, pois querem tudo Doutrinadores do absurdo Querem ver o povo mudo e surdo Diante das falcatruas de quem ainda escraviza Mas não importa o tempo, mão branca na pele negra não suaviza Peito negro aberto Sociedade metralhando a torto e a direita E a esquerda nem esquenta Com negro e pobre ensanguentado Pois a discussão é sobre o político recalcado E a presidenta Dilma vítima de injustiça, protegê-la todo mundo se anima Enquanto ainda estamos em era de chacina. Tempos de engajamento interessado A luta do “que convém” E para a maioria da nação um social desdém 08/12/2015 Juliana Costa

CIDADANIAS ESQUECIDAS

Podem nos matar mas até mortos a nossa voz irá ecoar anunciando que ser preto no Brasil é está sempre no alvo do Fuzil De uma polícia corrupta e racista a serviço de uma elite fascista Que mata por prazer e em nome dos donos do poder Meu corpo pode estar metralhado pelas memórias ou pelas lágrimas As tristezas que nos imputam cicatrizes raras daqueles que lutam Não estão "acostumados" a ver negro andar feliz em todos os lugares raivosos são a maiorias dos olhares de quem quer nos ver sempre curvados, famintos e favelados Enquanto mães pretas limpas as casas brancas de despreocupação Daquela gente fina e de falsa comoção Seus filhos brincam de bola ou se escondem do camburão Pois não sabe se é a morte ou se é a proteção Na trilha das notícias de televisão A elite branca querendo impeachment e cassação Com discursos de serem preocupados com a nação e os microfones mudos direcionados a nossa solicitação: Queremos o respe

HUMANIDADE RADIOATIVA

Nossos velhos terão olhos lagrimejantes a minério Nossas crianças compreenderão que o dinheiro sempre será o critério E a maioria dos pobres  conhecerão de cór o caminho do necrotério E o que é ser humano constituirá nosso enigmático mistério E não valem nadas bonitas rimas Se o que importa a justiça são os minérios das minas Não adianta as  desculpas de falsos cataclismas Se nada diminui em mim todas as angústias e as cismas Esta humanidade radioativa Dos poderosíssimos  egos é cativa Destruição em efeito colateral perde-se tudo: Palavras, águas, gentes, a vida. menos esta  lógica do absurdo prima perfeita de Hiroshima Esta que nenhuma mídia filma .                                                         Juliana  14 /11/2015

NEGRO SIM.

                                                                      Ao NEAB Viçosa Fico a pensar Porque a sociedade insiste em acreditar Na pele negra cheia de ausências Porém se enganam, pretíssimas são nossas essências E não estamos em tempos de concordância ou cegas obediências Queremos ser negros até que ser deixe de ser pecado E que nenhum de nós de nenhuma forma seja escravizado Poesia é coisa de rico Mas mesmo assim eu arrisco É coisa de branco Mas eu escrevo e não me espanto Pois minhas letras são negras Lirismo e militância são minhas regras A poesia é o meu poder pensar. Discursivamente minha espada eu irei levantar Até que não precise mais lutar Negro não quer ser hegemonia Romper com as coloniais mordomias se faz forte propósito, queremos andar com lápis na mão a cantar: Sou negro sim E nada irá me diminui .                                                                          Juliana Costa 12/11/2015

PEDRAS DA CIDADE

                              Dedicado a Maísa Alves , Adenilde Petrina e Rafaela Moreira Cidade de pedras Em que sutis regras Impedem sonhos, fecham caminhos Pois o rigor é as gentes de colarinhos Desacreditando Desestimulando Todas as vozes da rua Oferecendo desesperança crua Impedindo que a voz negra se construa como forte ventania a arrastar na avenida A anônima gente deprimida Pois cada dia é uma luta diferente Talvez não seja a fome e nem a corrente Mas o sol esquenta o pêndulo do tempo Que marca as ideias e as promessas de  que as coisas irão melhorar, não tenhamos pressas Cidades de pedras Pedras que colidem mas que não se sentem Fazem fogo, fazem barulho O pó em forma de orgulho E do morro as vozes se multiplicam Querem anunciar que certas coisas não aceitam Fora racismo, pois a nossa gente não consente E não levará nenhuma pedrada no dente Pois com sorrisos e cantos Erguerão a ancestralidade e fé como mantos Vozes eco

VONTADE

                                   Às vezes bate uma vontade De     escrever Reescrever Rabiscar Tudo que o mundo projeta em meus olhos Mesmo que da vida o sistema espera que eu seja analfabeta O lápis na mão Tem gente que diz que é necessária vocação Digo que não, necessitamos apenas da reflexão Pintada de rima, palavra     pregada na gente como ímã. Palavra cuspida é escarro Não é poesia, é apenas o     bizarro: Escrever sem senti Senti sem escrever Ai que vontade desgraçada De escrever mesmo que seja palavra inadequad a Quero poder rimar soneto Com gueto Camões Com orações Só para acabar com esta vontade danada Que surge até de madrugada           Juliana Costa 04/11/2015

FÊNIX NEGRA

O racismo já foi ciência Daqueles que nos tiraram a terra e a ascendência Difundira que a nossa alma é uma ausência Em meu corpo minha alma é uma fênix negra Que recusa a gaiola como lei ou regra A elite protege o direito de seu clã Herdeiros da "meritocracia" ou do Ku Klux Klan Enaltecendo privilégios conquistados pelo favoritismo Daquela gente que carrega no peito a cruz do fascismo Sou negra assim como a noite Renunciei da alma todos os traumas do açoite O tambor e o agogô fazem- me mais forte Pois negramente eu farei a minha sorte Embora na favela o camburão enquadra Criança na lei do escravocrata Que as leis ao pobre é a mais dura que a chibata Pois controla pelo medo e mata Querem nos convencer que o nosso limite é o chão Querendo impor com cortesia uma nova escravidão E nos restringi a uma social solidão Aprendemos que medo aprisiona a mente Faz nosso corpo inerte e demente Cega-nos brancamente Dizem que já temos liberdade Isabel, princesa, d

PROCURA- SE

Quero a liberdade Não aquela que açoita e diz que preza o que é humano Eu a quero a minha imagem e semelhança Não quero aquela em forma de fiança Eu quero a liberdade Que me permite a diversidade: De ser De pensar De escrever Quero a liberdade Que venha transparente, verde ou rosa Mas, por respeito a mim, não venha branca ou vaidosa Pois branca foi a mão Que a tirou de mim Quero a liberdade Cúmplice de minhas percepções Não aquela que marca na pele mil delitos Ou que marque na minha pele inúmeras decepções E sim aquela que espairece a mente, diminui os conflitos Eu penso a liberdade A caminhar tranquila sem ser confundida E sem perder o seu chão com uma bala perdida no coração Eu penso a liberdade Menina travessa a percorrer correndo todos os lugares Sem ser julgada ou aliciada pelos olhares De quem a não ver como o que é E por pensa-la tanto, meu querer torna-se angustiante E a sociedade me fez uma

MILITÂNCIA CIBERNÉTICA

No facebook grita e esbraveja os direitos da minoria Porém quando se desconecta exerce com fervor a hipocrisia Na rede é Paulo Freire, Beauvoir e até um Cristo Desconectado é o que convém sabe ser opressor também Discursos e Discursos de seres cibernéticos de línguas frenéticas e corpos inertes Lacrimogênio spray nos olhos Não lágrimas de vistas cansadas em frente ao computador É de gente que conhece o sabor e a dor De ter sempre que exigi o que é seu por direito e não por favor Os açoites não são  on line Wifi não lhe dá o embasamento para uma luta ou para uma vida Enquanto teclamos as nossas inconformidades Quem luta sente o caps lock da vala E o enter de seus sonhos que não são a prova de bala.                                                                 Juliana Costa 31/10/2015

LEOA

        Enquanto escrevo Me desmaterializo na noite As coisas que vivi revejo E há lembranças que são como o açoite Fazendo em minha alma uma eterna cicatriz Na palavra eu crio uma matriz Que renova meu axé, que firma os meus pés Enquanto escrevo nenhuma sentença eu aceito De alvo passo a atirador Metralhando concepções que me desconhecem como flor Meu jardim não será o jardim dos fundos Meu jardim quer ser colorido, jamais um jardim de neve. Enquanto escrevo as flores colho Algo em mim se ergue e a força surge, Minha leoa ruge.                                         Juliana Costa                                               09/03/15