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A MULHER MORTA DA SALA DE AULA



   Primeiro horário e a turma parecendo estar em um inferno, ser universitário têm seus sacrifícios, somos obrigados a estar aonde não queremos e a ver e ouvir pessoas que não gostamos.  A professora explica a sua ciência, só não se compreende em qual idioma arcaico ela se pronuncia. Há unanimidade na sala em relação a esta professora: ninguém gosta! E o motivo desta atitude é devido o fato dela ser uma assassina de ideias, pensamentos e de seres. Parece exagero, mas, não o é.   O professor  deve incitar a vida e não a morte.
            O que irei narrar corresponde aos piores momentos que a Universidade em que estudo passou. Faz um mês o ocorrido, faz um mês que o caos gerou o seu benigno fruto a todos que na universidade estudam. Foi o Dia D do desvendar dos olhos, que custou um olhar fixo para a eternidade de uma pobre vítima do pó de giz do destino.
Estamos na aula de quinta-feira da já referida professora ( seu nome não é relevante, já que é apenas uma miséria humana). Meu nome também não é importante não possuo títulos, sou um ser anulado. Mas continue-se o evento – Nesta aula todas as porcarias sentadas nas carteiras escolares, digo porcaria porque um dia a  nossa amada mestre carinhosamente nos definiu (tanto amor combina com o indivíduo). Assistiam passivamente à aula, éramos estátuas acadêmicas, quando a explicação sobre o significado na linguagem foi interrompida  por barulhos de gritos e tiros no pavilhão de aula o qual estávamos. Pela primeira fez entre nós e a professora houve diálogo, nossos medos se uniram em um e no quadro negro se fez metáfora. A sala só tinha uma porta que ia em direção ao que nos assustava no momento. Na sala éramos, agora, humanamente iguais, presas de um monstro desconhecido.
                 A porta da sala estava sem as chaves. A sala metarfoseava-se em jaulas de hospícios, a professora pela primeira fez nos pediu para ter calma e que fizéssemos silêncios. Alguns de nós chorávamos, algum de nós ficavam  estáticos e a mais sensível de nós desmaiara. O barulho externo cessou, isso representava para nós a dúvida:  Acabou,  estamos salvos ou perdidos?
                     Perdidos já éramos mesmo antes deste evento.
Olhávamos uns para outros, juntos como se fôssemos da mesma carne. De mãos dadas compartilhávamos da fé de que ficaríamos bem. Mas a vida não é perfeita, nossos desejos eram falhos, como bem disse nossos mestres, que eles não nos levariam a nenhum lugar. A porta se abre e um homem encapuzado com várias armas na mão entra, sem fala ouvirmos a professora falar para que ele tivesse calma! Mas o estranho encapuzado apenas a respondeu com um forte tapa ,que se não fosse a circunstância nós, alunos, entregaríamos a ele naquele momento nossas energéticas palmas. Porém estávamos com medo se morrêssemos naquele instante morríamos felizes por ver a face orgulhosa daquela que tanto nos submeteu sentir aquele ignorante tapa.
Eu era a aluna que não sorria aquela que criticava tudo e que não gostava de ninguém. Eu e aquela professora já tivemos fervorosas discussões a qual ela sempre me humilhada por não considera o que eu dizia, incapaz de acreditar que eu era capaz de pensar.
             Observava friamente a professora com as mãos na face gemendo calada a dor daquele santo tapa, que Deus abençoe aquela santa mão. O familiar encapuzado olhou para a direção de todos os alunos, tentava desvendar em  nós alguma coisa. Ele disse o nome da professora quando a ela se referia. Como é que ele sabia? De onde que a conhecia? Inúmeras outras perguntas saiam de meus olhos e fazia no meu espirito um mosaico de indagações.
              Ele a destratava em nossa presença, ele a odiava. Então depois de cessado o seu bom ânimo o encapuzado se dirigiu a nós. Fizera uma proposta: - Querem que eu a mate ou que eu mate vocês? Essa era uma pergunta fácil no momento, queríamos levantar a mãos ao mesmo tempo para responder, mas em mim veio a mais dura reflexão, covarde e ridícula. Sabíamos se fosse o contrario ela nos oferecia sem remorsos, como éramos em maior número seria mais prejuízo a nossa universidade, mais discursos fúnebres de como éramos excelentes alunos e muitas lágrimas daqueles que realmente nos amavam.
O encapuzado estressou-se pela nossa não manifestação. Pensávamos a proposta, porém em silêncio fomos condicionados a não manifestar a nossa experiência no laboratório da razão, estávamos como em todas as outras aulas: sem reação. Então um de nós, o melhor aluno da professora, aquele que ela sempre investiu e a ele a suas hipocrisias orientou, à entregou em nosso nome!

           O Encapuzado colocou a arma na cabeça da professora, que naquele momento estava sentada na cadeira. Eu apenas via a arma e o olhar de certeza daquele homem que iniciava o manuseio dela para a execução. Mas quando ele estava a fazê-la o interrompi. Pedir a ele que me desse à honra de matá-la. Pois a odiava por muitas coisas, chorei pela primeira vez na frente daquele estranho, contei todas as palavras mal ditas por aquela professora, das vezes que ela me fez sentir um nada, das humilhações em público e das perseguições acadêmicas. Disse também que ela havia me metralhado várias vezes a sangue frio em prol de seu ego. Confessei-me a ele como a quem devota o verdadeiro sentimento em relação a alguma coisa.
             Ele fitou-me e autorizou o meu desejo. A arma estava agora em minhas mãos, firme e decidida. Ao encapuzado perguntei por que tanto ódio a ela, pedi que compartilhasse também o que pensava. O encapuzado tirou o capuz, seu rosto estava abalado pelo seu intento, seus olhos refletiam os mortos que precisou fazer para se sentir grande. Contara a todos nós o porquê, disse que já tinha sido aluno daquela professora e que após alguns períodos com ela desistiu do curso, ela o matou intelectualmente, quando viu que não mais conseguia mais refletir criticamente, saiu daquele curso.
        Aquele homem não era mais um homem, eu já não era mais aquela aluna, nós não éramos os mesmos. Fomos todos afetados pelo pensar humanamente sobre nós mesmos.
Ele chorava durante o seu relato. Quis abraça-lo, mas tive medo; ele estava destruído pelas palavras do passado, que o coração petrificou na mente e que o suas reminiscências esculpiu na alma. Era um ser que não tinha mais cura ,pois a doença que a má palavra causa, se não remediada a tempo se torna terminal. E ele estava no estágio terminal de desesperança. Exigiu que atirasse nela! Eu o pedir desculpa e atirei.
         O homem caía e nos meus olhos pareciam lentamente a sua queda. Fui até seu corpo agonizante, pedi-lhe perdão e ao ouvido confidenciei algumas palavras.Com seu olhar fixo na professora, morria! Todos estavam atônitos diante daquela aula! levantei com a arma e sangue nas mãos. Fui até a professora, pedir-lhe licença e em suas mãos trêmulas coloquei a arma e em sua face passei o sangue. E sair calada ao fim do horário.
         Os policias vieram e interrogaram todo mundo, enlouqueceram o morto! Os familiares do estranho chegaram, sua mãe questionava ao policial qual o momento em que se poderia enterrá-lo. A professora era conduzida para ambulância. A aluna desmaiada despertou rejuvenescida. Porém eu homenageava em espirito aquele louco herói daquela aula e até hoje dele me lembrou, um mês depois.
      Ele matara muitos inocentes em prol de sua vingança ,todos este mortos todos nós conhecíamos. E choramos por ele mais do que por aqueles tantos outros mortos.
Estou no primeiro horário e a turma está atenta a explicação da professora, aquela do tal evento. Voltamos à questão do significado e sua extensão e todos participavam ativamente daquela aula, menos eu. A professora esta em tratamento, porém ainda continua a lecionar. Não sei o que pensa agora, ela nos trata humanamente. Ela encontrou seu próprio significado e nos proporcionou significar.
       A desmaiada daquele evento se dirige a mim perguntando: - Fiquei sabendo que você disse algo ao bandido e que salvou a professora e todos nós.
  Fingir não ouvi-la. Porém todos se apropriaram de uma pergunta e quiseram saber qual foram as palavras murmuradas ao homem. A professora demonstrou também interesse em saber. Então após tantas insistências disse:
- A ele disse que descansasse, pois já estava morto mesmo antes da bala penetrar-lhe o coração. Pedir que me perdoasse e demonstrei-lhe minha admiração. Esperancei lhe de que nem todos os professores eram iguais à senhora (apontando). Falei que não poderia deixar que a matasse pois a morte não permitiria se desculpar por tudo que já fizera. Disse que por ti morreria não porque gostasse da senhora, mas por sentir pena de que uma miséria não tenha tempo para redimir-se. Chorei em seus ouvidos palavras de consolo, amizade e afetos, denominei salvador dos oprimidos do conhecimento hierarquizado. Não prometi que algo iria mudar, jurei apenas não permitir que meus pensamentos de mim fossem exorcizados. E que a professora já era uma mulher morta na sala de aula.

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