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DESCOMPLEXOS


                                    Dedicado a Rosi Ferreira

Negro não fique constrangido
Com a nossa história
Pois quem foi escória
Foram aqueles que covardemente nos aprisionaram
ao medo
ao ferro
a desmemória

Negro pintar de branco
Não lhe fará a prova de bala
"Preto bom é preto que se cala"
Esta é ideologia de quem coloca diariamente negro em vala
Negra, infelizmente, a sociedade não lhe torna mulher
Apenas de tratam por negra enquanto lhe impõe as subalternas regras
Demonizam seu corpo e seus orixás
Pois consideram bom o santo das mulheres de chás
Querem incessantemente fazê-la crer
Que nada pode,até mesmo o próprio nome escrever
Negra remover seus traços
Não diminuirão os embaraços
Daqueles que acreditam que mulher se pega pelo laço
embora venha ao fim do dia a tristeza e o cansaço
Saiba negra seu ser merece estrelas como a noite
E que aí daquele que levantar o açoite
Conhecerá a sua força, afiada como foice.
Negra quem é sua redentora
é você mesmo e não uma rainha opressora
Que a história consagrou
Tornou santa, tornou mãe, olho branco louvou
Os olhos negro amaldiçoou
a falsa liberdade que a mesma nos destinou
Negra não se sinta culpada
pelo sistema que é uma cilada
Autos de resistência
para legitimar contra os nossos filhos a violência
Querem nos acostumar que Branco que mata é por demência
convencer que Negro que mata é coerência
Nesta sociedade de forças invisíveis
Da relatividade do crime
Eu ainda insisto:
Que não quero ser regra
nem muito menos exceção
Quero apenas ser
Sem aqueles complexos, penitenciários ou de inferioridade.
Quero de volta a minha ancestralidade
Minha alma e dignidade.

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