Pular para o conteúdo principal

MENINO E SEUS DEMÔNIOS

                                                                       Dedicado a W.

Quem disse que a fúria não brota de um peito ainda tão imaturo
O menino quer ser irracionalmente o ser mais duro
Sente alguma coisa, mas não diz e nem chora
Pois homem não chora e nem piedade implora


Menino Diabo
Que aprendeu a dizer diante do que sente nenhum monossílabo
Alguns espera que a sua vida o destino ter cabo
Menino marrento
Fecha a cara como se fechasse o corpo, este é o argumento.
Não sente o que o mundo lhe lança às costas, a queima-roupa
Destruir para se sentir visto, nada ao redor polpa

Menino- demônio?
Anjo não era, pois na escola todos os anjos eram desenhados loiros
É apenas uma criança ...
Que sabe que muitos creem que ela não pode ser a esperança
Pois a ele foram dados medos como herança
Menino que não quer ouvir canção de ninar
Pois na favela sempre o seu povo irão matar
E a sua gente menosprezar
Sempre será um delito
Quer ser deste mundo, sim, um foragido.
Se esta rua fosse dele ...
Ele mandava derrubar.
Pois não consegue perceber a beleza de nenhuma canção.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

AUTOSSABOTAGEM

É abafar o grito e forçar  um sorriso receptivo enquanto professa que somos todos iguais. É amarrar os próprios sonhos em uma âncora e lançá-los em profundo buraco. É ser visionário da desgraça Prever apenas os escombros do futuro e a dor É rasgar os próprios poemas, quebrar todos os lápis, queimar todas as folhas e explodir a caixa de energia de casa. Autossabotar É construir uma armadilha que captura apenas o interior É ter as próprias digitais no pescoço e ser a testemunha de acusação e o reú. É chorar e dizer que as lágrimas salgadas Não fazem arder as feridas É tropeçar no cadarço do sapato que não quis amarrar É entrar no rio sem saber nadar Ou se afogar mesmo sabendo. Sabotar é puxar o fio vermelho das ideias do inimigo. É escrever um poema Que mata, mas que não lhe suicida. Juliana Sankofa 12/07/2018

NOVA VIÇOSA

A memória caminha sorrindo, ferindo os pés nos paralelepípedos afiados das ruas... tropeça em galinhas, observa as rodas dos homens que não fixam os olhos em seu rebolar. Esquecidas as feridas das pedras, a poeira das ruas de terra não desgruda de toda a memória. Os risos brincam de pique-esconde com as dores Cães e gatos caminham paralelamente na mesma rota. Se o sol não brilhar no céu, brilha intensamente nos olhos De quem ver beleza até no dia cinzento de domingo. A memória percorre o bairro Proseia com a esperança Carrega no colo a alegria Descansa sentada na calçada Escuta o canto da rosa, Sente o cheiro-gosto do café ... continua a caminhar. Passos de quem não sabe para onde vai ... mas se move sem pressa, dançante... colhe as histórias. Enquanto isto ... A senhora mais velha do bairro Nunca compreendeu o porquê da memória nunca envelhecer, Ofereceu-lhe um copo de àgua Olhou os pés sujos e machucados e nos lábios o lindo sorriso faz contraponto. Pergunta-lhe o nome: Memória de

AQUILOMBAR

Aquilombar não é se esconder é enfrentar juntos a cara pálida do poder Também é dançar para afastar a dor e honrar quem já se foi É forjar laços mais fortes que aço incorruptíveis pelos egoísmos ocidentais É escuta É falas armas que se usam sem misericórdias Aquilombar é despir de tudo que nos finda Recusar nutrir a inveja branca, é amparar o grito no mesmo instante que ele é dado Segurar as mãos até que a dor passe e o sorriso raie. É dialogar principalmente entre nós, para nós e sobre nós. Desfazer-nos dos nós que atam as esperanças. Aquilombar é erguer o punho, mas também abaixá-lo no abraço-Forte. Juliana Sankofa  * Escrito em 22/02/2021