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ANÔNIMO CRISTO


É natal
Tempos de paz?
Na favela a farda em forma de capataz
Faz de todas as noites um momento fatal
E a fé tentando ser imortal
Se Papai Noel aparecer?
Toda criança irá se esconder
Pois não se sabe se vem em nome da paz
Ou da guerra
Enquanto a elite se exalta
O pobre soma o que falta
Menos
Menos
Mas Deus é maior
E o menino sonha com a mesa farta,
A mãe com sorrisos da família toda grata
Menino sonha com doces e balas
A mãe que ninguém morra de bala perdida
Que não aja velas
Nem mesmo as de natais
Que não tenha lágrimas
Nem valas
Que Deus suba a favela
Embora não se tenha esperança nas rezas
Que o sino bata
Mais do que o cassetete da polícia
no corpo ainda menino
De um outro Cristo
                                                                               Juliana Costa 21/12/2015

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AUTOSSABOTAGEM

É abafar o grito e forçar  um sorriso receptivo enquanto professa que somos todos iguais. É amarrar os próprios sonhos em uma âncora e lançá-los em profundo buraco. É ser visionário da desgraça Prever apenas os escombros do futuro e a dor É rasgar os próprios poemas, quebrar todos os lápis, queimar todas as folhas e explodir a caixa de energia de casa. Autossabotar É construir uma armadilha que captura apenas o interior É ter as próprias digitais no pescoço e ser a testemunha de acusação e o reú. É chorar e dizer que as lágrimas salgadas Não fazem arder as feridas É tropeçar no cadarço do sapato que não quis amarrar É entrar no rio sem saber nadar Ou se afogar mesmo sabendo. Sabotar é puxar o fio vermelho das ideias do inimigo. É escrever um poema Que mata, mas que não lhe suicida. Juliana Sankofa 12/07/2018
A Maré não está para peixe Nem pra preto O anzol é o Estado A bala também. Que passado é este  que não deixa de ser passado para nós? 
É preciso acariciar os pés de quem anda ao seu lado. A vida deixa sentimentos calejados quando não há reciprocidade. Uma caminhada sozinha e cheia de vozes, sem toques, parece miragem em deserto onde a lágrima ora é um oásis. Sede estranha, fome mais estranha ainda. Meus grãos de areia esbarram nos dos outros e assim se movimenta o tempo, peito-ampulheta. Eu aqui, escorada na caneta, pensando se minhas palavras fazem sentido. Pergunto-me: Por que me sinto sozinha enquanto olho nos pés tantas feridas. Juliana Sankofa Fonte da imagem: Pinterest (https://pin.it/2YPdQeh6I)