Pular para o conteúdo principal

CURUMIM



Que não nos esqueçamos
Ano novo não é pele nova
Tempo de comemoração
Mas, nas aldeias só há violação
Curumim assassinado
Pelos que rezam e são protegidos pelo Estado

Todo ano o mesmo vício
Desejamos paz e amor
E não nos comovemos pela alheia dor
Das gentes destruídas, forte indício
De que no Brasil não respeitamos índio

Meus ancestrais conheceram o ferro europeu
A marcar sua memória, corpos negros flagelou
Em nome da cobiça europeia,
Nobre alcateia,
Viemos nesta terra já banhada pelo sangue do insubmisso
Que como nós também fizeram cativo
 Catequizaram...
 alguns não se convenceram
E a morte foi a cruz   da  fé de quem dizia querer “vosso bem”
E é notório o histórico desdém
Pelo índio
Pelo preto
E a proteção é inútil  decreto.
A lei não é para índio, pobre ou preto

Ano novo
E meu corpo se manterá fechado
Não brotarão lágrimas, meu coração não será saqueado
A resistência é sempre nova
Quando eles aproveitam o conforto da alcova
Meus irmãos conheceram a indesejada cova
Ano novo, ideologia velha.
Senhores, feitores e Doutores
Se tornando   discretos opressores
Palmas nas costas
Boom...
Menos um...
Seja adulto ou curumin.

                          Juliana Costa
                          31/12/2015

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

AUTOSSABOTAGEM

É abafar o grito e forçar  um sorriso receptivo enquanto professa que somos todos iguais. É amarrar os próprios sonhos em uma âncora e lançá-los em profundo buraco. É ser visionário da desgraça Prever apenas os escombros do futuro e a dor É rasgar os próprios poemas, quebrar todos os lápis, queimar todas as folhas e explodir a caixa de energia de casa. Autossabotar É construir uma armadilha que captura apenas o interior É ter as próprias digitais no pescoço e ser a testemunha de acusação e o reú. É chorar e dizer que as lágrimas salgadas Não fazem arder as feridas É tropeçar no cadarço do sapato que não quis amarrar É entrar no rio sem saber nadar Ou se afogar mesmo sabendo. Sabotar é puxar o fio vermelho das ideias do inimigo. É escrever um poema Que mata, mas que não lhe suicida. Juliana Sankofa 12/07/2018
A Maré não está para peixe Nem pra preto O anzol é o Estado A bala também. Que passado é este  que não deixa de ser passado para nós? 
É preciso acariciar os pés de quem anda ao seu lado. A vida deixa sentimentos calejados quando não há reciprocidade. Uma caminhada sozinha e cheia de vozes, sem toques, parece miragem em deserto onde a lágrima ora é um oásis. Sede estranha, fome mais estranha ainda. Meus grãos de areia esbarram nos dos outros e assim se movimenta o tempo, peito-ampulheta. Eu aqui, escorada na caneta, pensando se minhas palavras fazem sentido. Pergunto-me: Por que me sinto sozinha enquanto olho nos pés tantas feridas. Juliana Sankofa Fonte da imagem: Pinterest (https://pin.it/2YPdQeh6I)