Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de 2016

O MUNDO ATÉ O OSSO

Tive um encontro infeliz com o senhor silêncio Não conseguir fugir fui penetrada com uma violência histórica que todos negam. Estou ferida, mas não estou morta O senhor silêncio colocou em minha boca uma máscara não me era permitido um sussurro. A palavra sufocada não produzia revolução Considerava a minha mente sua plantação Aquele branco senhor não manifestava nenhuma dó Não sei por quando tempo Não sei quantos serão os estragos que o silêncio me fará Para quem está acostumado a falar o silêncio é um senhor bom Estarei vivendo com alma inquieta remoendo os dizeres adulterados . Já cansei de gritar, não adianta todos os ouvidos estão tampados pelos interesses individuais Todos os olhos estão cegos, olhos branco... que mesmo quando ver agem como que nada vissem Meu corpo foi transformado em um porão Onde que tenho que está contida a espera de uma nova era em que pessoas negras sejam de fato ouvidas ao invés de serem mortas de todas as formas co

ONDE ESTARÁ MINHA PAZ?

Minha paz era um menino pretinho brincando na rua e que colecionava pedras, dando-as a necessária preciosidade. Ainda, que fazia das poças d'águas, formadas pela chuva da noite anterior, um mar onde era marinheiro Minha paz corria descalço somava seu riso com outros tantos risos quando alguém perdia a brincadeira Minha paz, bom menino. Sem saber era poeta Fazia da realidade um mundo em que podia ser herói Não temia as ondas que brotavam daquela poça-mar Não temia as estrelas que do céu caia enquanto navegava Ah, não percebeu o repentino tiroteio seu mar ficou cheio de estrelas... Os risos se perdiam no deserto do silêncio Sua mãe corria para resguardar seu marinheiro Porém era tarde... o mar se transformou em sangue e nem sequer era um milagre. Juliana Costa  29/12/2016 JF/MG 

NOITE FELIZ

Noite feliz É quanto os moleques da favela Podem andar sossegados Sem que no outro dia para sua alma se acenda uma vela Noite feliz É quando ao nosso lado não dorme O medo ou raiva De ser sempre confundido Com algum suspeito da suspeita racista de algum fardado. Diz aí meu senhor Pelo amor ou pela dor Eu quero um Brasil diferente Não me importa onde tenha nascido aqui ou em Belém Só peço que não se esqueça Aqui no Brasil Roubam em seu nome Mas delatam até Barrabás Noite feliz Cada um com sua cruz em forma de pátria Quão afável é teu coração Que quisesse nascer nosso irmão E por isto foi criminalizado E seu corpo desaparecido Dissimularam a verdade Subiu aos céus, era culpado. Que se bata os sinos, mas por favor não soem as sirenes. Juliana Costa 23/12/2016 JF/MG

NERVOS À FLOR DA PELE

Quando os nervos Estiverem à Flor da pele Pare, Pense, Reflita. Até que o  adubo para essa flor Seja outra coisa Maior que Nervos. Juliana Costa

PERFORMANCE POÉTICA EM CURITIBA-PR

APANHO Apanho todos os dias Não é um apanhar de flores De pão De roupas apenas Apanho todos os dias Apanho, pois minha classe é destinada a apanhar. Cristo nos ensina: se baterem em uma face, vire a outra. Creio que Cristo aconselhou os oprimidos E estes como bons cristãos serviram-se do conselho eu também Apanho nos dois lados de minha cara... diariamente. Apanho, doutor Apanho sim Tudo que não querem e que eu não posso comprar Eu apanho Pois comida nenhuma é desperdiçada por quem tem fome Apanho, sim, professor Apanho por não querer ver tudo que vem de meu povo como o errado Apanho madame Recebo spray nos olhos Por isto fico a chorar de dor... de raiva... De preocupação querem dominar meu coração colocar meus sentimentos em senzalas. Apanho Apanho um porrete e não corro do combate chega de apanhar, se já não tenho mais medo da morte preciso ser forte Pois senão os senhores me levam para o abate. Juliana Costa In Cadernos Negros 37 (2014)

VAMOS FALAR DE AMOR?

Amar Mesmo sabendo que é perigoso É algo que dá gosto Amar é o risco Que todos nós corremos Amar é fazer rabiscos Querendo escrever algo para quem se ama Sem ter palavras suficientes para dizer Amar é incompatibilidade que dá certo É o efeito da repetição “ Eu te amo” Amar é um  arco-íris ligando o céu e a terra com um beijo Amar é mais que fogo que arde É frio no estômago quando se ama e não pode tocar O amor é a noite de conchinha com as lembranças Daquele amor que já se foi Amor ou Amora são coisas que sentimos na boca, Selamos com um ato. Quem nunca amou que jogue o primeiro beijo... Que colha a primeira flor. O amor que coisa louca Deixou de caminhar pelas ruas, Deixou de frequentar diariamente as redes sociais Não faz mestrado e muito menos doutorado, O amor nunca foi acadêmico. Amor é a morada De algo que só conhecemos quanto vivemos Sem esta de pares perfeitos ou casais ideais O Amor não é vendido por reais A

APENAS “ SUSPEITO”

Qual é o critério para esta definição – rótulo “suspeito”? Nesta sociedade que julga a pele negra como um defeito É possível enxergar o social preceito: Que escura é a cor da culpa. E na vida acadêmica confunde-nos com um quadro negro Em que um giz branquíssimo digita suas verdades, mas é tão branca a vaidade. Daqueles racistas que lecionam na faculdade “ Suspeita” acreditam ser nossa capacidade De raciocinar sobre aquelas teorias que tanto nos inferiorizam Daqueles conceitos – “verdades” que se naturalizam E se multiplicam venenosos em vários livros É tanto tiro na cara Na rua Na escola Ou na praça Retiram nossos direitos das sociais logísticas Enquanto pintamos as estatísticas Juliana Costa    2016 JF/MG 

LENDO O DILÚVIO

Que dilúvio é este que cai da noite? São Pedro, por favor, faça parar Xangô, Kao Kabiesilê, não deixa na dor ninguém perecer A pobreza anda nos becos a serviço de quem tem poder para mandar. A justiça e seu alto escalão Pensa que todo preto e pobre é ladrão, na escuridão tudo é alvo Nada é humano, tudo tem  a mesma justificativa “ É mais um bandido que podia matar um  pai de família” A dúvida se transforma em certeza quando o racismo anda fardado. Que dilúvio é este que cai da noite? É tanta água A dor em forma líquida  e as tantas mães que rezam, Enquanto o público  sempre condena: “ Se criasse direito, não teria morrido” “ Se tivesse dado educação, não estaria enterrando filho” E os filhos que matam outros filhos Chamam de heróis da nação Uma nação branca de ideias E coloridas nas ruas Que dilúvio é este que cai da noite? Cobre a favela e ninguém ver. Eu aqui lendo o dilúvio  como se ele brotasse de mim Juliana Costa 12/12/20

O RISO RAIOU

                                            dedico a Ana Paula Mendonça. Cada dia a gente se repensa repensa o porquê dos punhos erguidos E quando foi que eles se ergueram pela primeira vez Talvez, no ventre escuro de minha mãe meus punhos foram gerados E quando eu nasci, eles se ergueram tímidos rasgando o véu social que já me condenava. Depois no hostil cotidiano, os meus punhos se ergueram como poesia e como grito. De vez enquanto meus punhos ficam doloridos, parecem que eles erguem o mundo e os milhares de corpos negros executados pelas mãos brancas de quem nunca perdeu a paz ciente de que era dono de tudo o que os meus olhos tocam, dos nossos corpos e de nossa fala. De vez enquanto uma lágrima desce varrendo a face seca de quem retornou de um combate Depois de uma, vem incontáveis ... e um mar morto surgi no rosto. Antes do tempo amarrar a corda em nosso pescoço procurando uma boa árvore para nos pendurar em suas futilidades o riso raiava! e fazia do mar m

MEUS 312 MESES

Eu tenho 312 meses sou abord (t)ada todos os dias e você nem sequer manifesta um apoio textual nas suas redes ou entre seus amigos para que parem de me abortar. Eu tenho 312 meses e dois olhos vejo como uma criança assustada os 111 tiros os cinco corpos a se multiplicarem sem vida nas lembranças coletivas dos traumatizados por tanta chacina Eu tenho 312 meses E ainda tenho que explicar sobre coisas tão lógicas: " Privilégio" e o seu cinismo " Racismo" e seu ideal de democracia... Eu tenho 312 meses Sangro Sangro Sangro Sangro Sangro Enquanto você vira o rosto assistindo o jornal nacional. Eu tenho 312 meses Já vejo a naturalização da cultura do estupro, mas assumindo vítimas recém-nascidas e de Pais impunes. Não importa a idade que eu tenha nasce, viver ou morrer é sembre uma questão de poder E mesmo assim

DITADO

" Peixe morre pela boca"? MENTIRA! Morre pelo ouvido Ouviu tanto e nunca disse nada .... sufocou-se com suas próprias ideias que não flutuavam. Juliana Costa 27/11/2016

SEM MEDIDA

                 À Anelise Freitas. Meu corpo rompe com todos os  paradigmas Em mim não cabe nenhuma medida Estou em constante despadronização Sou sem limites Sem fronteiras Sem proporções E até mesmo sem rima Meu corpo grita contra todas as ordens... Desobediente, eu danço para cicatrizar o passado, anestesiar a alma. Juliana Costa 23/11/2016 JF/MG

DEUS É UM CARA UNIVERSAL

“ O Rio de Janeiro continua lindo” Tiros grátis nas favelas E Fogos de artifícios caros em condomínio. Terra do Cristo, Redentor de alguns, cuja túnica é formada pelo sangue que escorre do morro. Cidade maravilhosa, onde Deus é um cara universal, todos fazem adoração! Arma na mão... Pow! Espera-se que Deus não seja um neguim. Cidade de Deus, Repleto de mães, Marias que não tem reconhecimento, e Meninos que não ressuscitam no terceiro dia. Nossa fé não tirou nossa cegueira esta que nos impede de ver o genocídio. Deus é um cara universal nosso amor continua restrito, confundido pelas ambições  que até se consegue explicar pelos versículos da bíblia  Na favela é uma eterna vigília  para que não seja roubado o sopro da vida  Deus é um cara universal  e o Estado um genocida. Juliana Costa 21/11/2016 JF/MG 

RECOBRANDO A CONSCIÊNCIA

É passado tanto tempo O tempo como um rio Em que corpos negros vão passando... Silenciosos Desaguar no esquecimento É passado tanto tempo Que nos enforcam em outras árvores ... Árvores de conhecimentos. Nosso silêncio alimenta as genialidades incontestáveis Que faz do racismo a teoria mais bem aceita É passado tanto tempo Que nós negras despertamos o ódio gratuito De quem não se acostumou com nossa exuberância Com nossa audácia Por isto nos marcam com o rótulos de “ violentas” “Barraqueiras” Só pelo fato de não mais aceitamos Os caprichos do branco, da branca e do negro. É passado tanto tempo Nossa consciência de tudo Pertuba Quem quer que esqueçamos Que a simbologia grandiosa De quem somos... Somos filhos de continentes, herdeiros de uma história saqueada. Nossa pátria foi traficada, Nossas peles mutiladas Desconscientizaram-nos e Dominaram pelo medo. E queriam que acreditássemos em uma pretensa inferioridade, jamais acreditamos E nem aceitamos a ideia de que nossa ancestralidade d

CORPO E POESIA

Meu corpo se fechou aos olhares aos cochichos de quem nunca esperou que eu pensasse e para aqueles que acreditaram que o meu corpo está à mercê de suas palavras e de seus jugos Meu corpo se fechou renunciando os falsos abraços, camisas de força vazias de afeto. No meu corpo não residirá nenhuma cicatriz feito pelo seu falar O meu Ori não está adormecido, nem esquecido. Enquanto a todo momento tudo ao meu redor me toca, mas jamais me penetra; sinto o gozo estranho do desaguar da minha poesia em horizontes de sentido que desconheço. Chegará um dia que aqueles que  busca o meu silêncio ter que suportar o estrondo  nada poético do som da minha voz Juliana Costa 15/11/2016 JF/MG

SEM INTERESSE

Poeta Não me interessa. Se na sua pele nada existe ou se não sente nada Não me interessa... Poeta Não me interessa Não sinta pressa De dizer ao mundo o que lhe pertence  ou se fingi dor ou de dor finge... Poeta, Não me interessa Se canta Geme Ou reza Só me interessa Se o que diz Vai mais além De branco – aprendiz... Juliana Costa Curitiba - PR 11/11/2016 

OUSE E OUÇA

Ouse Ouça Não são os trilhos brancos que fazem o trem andar Ensinaram-nos a equilibrar nestes trilhos, enquanto uma multidão animada espera nossa queda, porém diante do público a gente sorrir, cabeça erguida, equilibramos em trilhos que eles não podem ver. Ouse Ouça Desanimar pra quê? A coragem é uma onça preta em meio a neve, uma neve que nunca tinha visto, mas que apesar do frio, a onça não deixa de ser preta Sinta-se Verá que é cheio de sentidos; de força; de fé. E nossa fé não moverá montanhas moverá algo maior, ideias. E quando as ideias se moverem, sem jamais chegarmos a uma ideia fixa, perceberemos que o nosso corpo se decompõe, mas nossas ideias não. Juliana Costa 29/10/2016 JF/MG

QUILOMBO DE IDEIAS

                                            À Cristiane Brasileiro, de uma ideia para outra. A minha ideia nasceu, foi capturada e escravizada por aqueles que me inferiorizavam. Uma ideia presa é uma ideia morta, minha ideia fugiu, encontrou outras ideias, formou um quilombo. E o mundo quis destruí-lo, mas o quilombo resiste, o quilombo é a prova de balas. A minha ideia juntou com a sua e com muitas outras ideias formou um exército de ideias que se completavam e que promoviam inúmeras reflexões até que deixe  de ser branca a única ideia aceitável. Todo dia em tantas esquinas uma ideia esbarra com a outra E há aqueles que pensam que a minha ideia é um morro a ser pacificado ou que nela não há alma A minha ideia escreve... nos muros do sistema as palavras que não querem ouvir. Juliana Costa 26/10/2016 JF/MG

NINGUÉM CONHECE O POVO

O povo está adormecido? Não, o povo tá aí todos os dias na rua Buscando a sobrevivência Diante da eloquência daqueles que tem tempo de ir às ruas O povo não vai as ruas Porque há horário a cumprir Caso o patrão libere, há muito roupa para estender Pois o povo trabalha 24h por dia E ainda aguenta a palavra brusca de quem se acha sempre na melhor O povo não adormeceu, finge de adormecido. Até que não consegue mais desfingir O povo é um poeta Que não entra na academia E nem sequer deita na grama da universidade. A opressão é um camarada estudado Que se acha melhor do que o povo. A opressão é uma patroa Que não permite que ele use o mesmo copo ou coma a mesma comida A opressão é um professor Que preza muito mais o silêncio Cadavérico de quem é ensinado Do que a agitação das ideias O povo está sem aldeia E tem suas crianças mutiladas pelos que cortam suas árvores E que move a economia nacional. O importante é um móvel legitimo de madeira Feita pela fa

NÃO NASCI BRASILEIRA

Não nasci Brasileira, nasci Negra. Com cabelos crespos rebelados que nos conflitos diários foram domados, até que se livraram do ferro que alisava mas jamais acariciou. Não nasci, fui concebida a imagem e semelhança dos anônimos. Nunca compreendi, a indiferença; os risos; a violência de quem queria me provar que eu não era  bonita ou muito menos inteligente. Nunca compreendi porquê no espelho se ocultava a minha face? porquê que eu pronunciava apenas o silêncio? Acostumei em me sentir inferior. Mesmo quando  eu sabia  a resposta da pergunta da professora, jamais respondi. tinha medo de errar... e a todo momento eu sentia que errava errava até o modo de respirar.... Não nasci Brasileira, nem muito menos afro-brasileira. Nasci  olhando para o branco depois acostumando com tudo virei devota do absurdo, entendi que policial criminoso ensinava preto a ser surdo e também cego e também morto.... Não nasci Brasileira; nem pesquisadora; nem professora;

APENAS DUAS MULHERES

                         Dedicado a P.A Duas  Mulheres desenhando o mundo surge um impasse que cor será o céu? Uma quis que ele fosse negro a outra que fosse plena claridade Durante o diálogo para resolver tal situação era desenhado o oceano, rios e poças nas ruas se desenhava jabuticava, melão, uva e jaca No consenso Surgiu o dia e a noite o dia cheio de sombras das árvores a noite reluzente de estrelas brancas Quando era necessário o dia visitava a noite ou a noite visitava o dia No encontro, um eclipse Será um confronto ou um abraço? O que será que tanto conversam? Juliana Costa 07/10/2016 JF

NOVO FERRO

Não tenho culpa tenho luta Não tenho rancor tenho dor, aí que dor! Não tenho e por não ter se acostuma a me dá dissabores, egos senhores? Um ferro novo e invisível marca minha pele, brancas ideias. que inferiorizam cheias de normalidades sutilezas prestezas e invisibilidades. Juliana Costa 06/07/2016 JF

PAZ

A branca pomba voa magnífica entre as balas perdidas no céu preto Voa majestosa e burguesa sem conseguir ver o chão repleto de estrelinhas pretas das periferias nacionais A branca pomba esplendorosa se comovia com os conflitos pousou no ombro largo do algoz foi sentenciada a ser mais branca do que pomba Juliana Costa 04/10/2016

A SOBERANIA DA ROSA

                 À Juliana Rosa, irmã amada. Não deixe que o sistema lhe derrube.  Não desista, o mundo também é um direito seu.  Não machuque os pulsos pelas tantas lutas que temos que travar  Não envenenem-se, cada angustia tem um gosto amargo na alma.  Não deixe o coração ser envolto por uma amálgama  Nem deixe ir embora o seu Ori  Não chore a não ser para criar tsunamis em condomínios fechados  Não grite a não ser para estourar os tímpanos de quem intimida a nossa voz.  Encho-lhes de “nãos”  Pois quero ver viva em seus olhos aquela menina preta que ciranda no meio a chuva  Quero ouvir de longe o seu sorriso arteiro e despreocupado  Quero lhe a princesa que eu sei que é  Cantando para o mundo quem é você  Gritando para o mundo o que não é  Sussurrando baixinho os versos que só você entende.  Nem toda princesa  Nasceu em castelos  Eu vi uma no morro com coroa na cabeça  Potência na voz  Rotina exausta  Tristezas que a rodeando  Ma

PENSA - DOR

Dói! E não sei se dói para todo mundo A dor sempre começa assim: Primeiro uma ideia Depois milhões E um turbilhão de imagens, minhas e nossas. Pensar dói, mas já estamos tão acostumados com a dor que ousarei pensar com mais intensidade Até que a dor passe. Pois isto é ser pensa- dor Juliana Costa 08/09/2016 JF 

HORA CERTA

Está na hora de desescrever. De lembrar que o lápis é preto, as letras são negras e o poeta não é apenas branco. Está na hora de desaprender. o modo de pensar com traços finos e pele pálida; Desaprender a histórica timidez em não se pronuncia; Erguer a cabeça, olhar nos olhos e não para os pés. Está na hora da paz. Paz no céu, Paz na favela. Só não haverá paz para nenhum capataz. Por mais instruído que seja, pois cabeças irão rolar, enquanto leem livros. Está na hora do grito destemido  de que não teme nada. Temer é a pior cilada Independentemente de quem governa. Juliana Costa  06/09/2016 JF 

SWEET STREETS OR SWEET HOME?

Não posso ir às ruas Porque a democracia sempre foi branca Embora fossem pretas algumas migalhas de políticas Não tenho coragem de ir às ruas Quando alguns levam cassetetes de vez enquanto Nós levamos é todo dia Não posso ir às ruas Pois “ um preto é sempre um preto” A voz social disto nunca me fez esquecer E quando tudo efervescer serão as mesmas caras no muro, Serão sempre os mesmos a aguentar murros, a legalização dos punhos e a  desaparecer por jamais obedecer Não tenho coragem de ir às ruas Porque a multidão me  assusta mais do que o opressor A multidão  instantânea da  dor a experimentar de vez enquanto o dissabor do poder Não posso ir às ruas Porque ainda procuro o Amarildo, Porque ainda estou chorando por Cláudia Porque ainda estou limpando o sangue desgovernado que cai lá do norte e que o sul/ sudeste finge não ver pois são as crianças dos outros a morrer Não posso ir às ruas E nem quero ir mas  surge o imenso chá com torradas Que se

VIDA INÚMERICA

A matemática não é das boas, os cálculos não batem, mas as perdas sempre. Mas foram 111 tiros em cinco corpos negros. Foram 61 homens brancos 54.501.118 votos tirados Incontáveis foram as chacinas Incontáveis foram as injustiças Embora fosse 111 tiros Foram mais de cem números de absolvições Será que estamos perdendo a visão? Juliana Costa JF 01/09/2016

DESCOBRINDO-SE

Saber quem eu sou.... é o mesmo que abrir a porta de um quarto escuro, onde será impossível a claridade iluminar. É ver a superfície noturna do mar. As profundezas seus olhos não alcançam; caminhar pelas águas nenhum santo homem branco conseguirá Eu sou um enigma que sabe falar Sabe quem eu sou? O eclipse ao meio dia, o personagem que você não escreveu, sou dama e  sou a trama tecida e esculpida por muitas mulheres Sou a letra que faltava mas  que mesmo assim se inscreve, sou eu.  Juliana Costa 26/08/2016 JF 

MANUAL DO CRIME

Arte de Robert The  * Apenas para criminosos (as) e os que tem tendência ao crime Façam das palavras Tiro e escudo, Não seu túmulo. Atire! Olhos nos olhos Não sinta medo Veja todas aquelas ideias cair por terra a sete palmos de terra se enterra gente e em minutos apenas ideias. Cuidado! Use o escudo Quem diz e não vive o que diz Não é sequer um aprendiz Tem a sua “ética” por um triz Nem adianta fingir Suas palavras são opacas Cheias de orgulho e arrogância Verborrágica ganância Atira para todos os lados Levante o escudo! o que o vento não levar o escudo impede, jamais cede ao que não tem sentido.  Juliana Costa  24/08/2016 JF 

[ POEMA SEM NOME]

                                                         Aos que estão enfermos. Quando se está  com  boa saúde  a sinceridade se ausenta  a sua bondade está a venda  Seus amores sãos os dos outros  Seus tesouros são bijuterias quando surge a enfermidade  aqueles que poderiam lhe ajudar  nem na sua dor ver mais a verdade não sabem  distinguir o que real e o que é falsidade  Quando se está com boa saúde  se torna o  "melhor  do mundo"  tem força o suficiente para magoar  dissimular  não se importar  como vai o outro Mas quando se está enfermo fica horas  e horas no próprio inferno em que nem uma alma amiga encontra  pois, nas boas horas não foi amigo só olhou para seu umbigo Quando se está com boa saúde  se faz irmã  discursa em prol da luta Mas quando está enferma tão  descontroladamente machuca  sua pequenez se faz eterna  Quando se está com boa saúde  tem orgulho da pele negra  discursa, não foge e não

BARQUINHO DE PAPEL

                                                             À poeta- vento. Em leves balançares, Incertezas e  Ideias- correntezas  Vou me desaguando em um mar desconhecido. Jamais navegado, por mais que navegá-lo insistam. É demorada a travessia De uma ideia a outra  Meu corpo vai flutuando Como fosse um barquinho de papel Um papel escrito: Com sonhos Com força Com palavras.                         Juliana Costa 12/08/2016 

Gênese poética

A minha poesia surgiu assim: com punhos para o alto e brigando sem descer do salto. De cabeça erguida a vida prossegue São inúmeras as  tentativas  de despoetizarem-me : Silenciar humilhar inferiorizar Tanta gente esperando a vez de ser o capataz Neste cotidiano que certas mulheres ´pensam ser sinhás E  certos homens dos  nossos corpos querem ser   sinhôres Enquanto ao  morro sobe  a dor eu vejo o discurso de paz do doutor que ensinar o concordar mesmo quando crianças pretas nunca  mais nas ruas irão brincar pois no pique- esconde  sempre  surge um fardado que fará eternamente que fechemos  os  olhos. Fim de brincadeira e mesmo assim a minha poesia surgiu Com punhos para o alto e brigando sem descer do salto conquistando os espaços que não querem que eu esteja A minha poesia nunca foi branca nem branda nem rima flores com dores rima voz com algoz luta  com mudança de conduta A minha poesia grita, ironiza, insinua. Não atura versos brancos que só de

EU E A NOTÍCIA DE JORNAL

Ouvir o riso ecoando da infância Misturando com os sons dos jornais que diziam: “ Envolvimento com ...” “ Jovens mortos...” É tanta desgraça justificada e a humanidade anestesiada “ Um abraço negro Um sorriso negro Traz felicidade? " Um crime ... e um abraço Eu aqui sentada lendo um livro Que teoriza a pele Omite o sangue Formando uma massa de intelectuais esterilizados. Juliana Costa 30/07/2016 JF

DEIXAR EU FALAR

Deixa eu falar, meu falar ainda planta verbos em jardins que nem conheço. Permite que diariamente eu me amanheço no ventre da esperança. Por favor, deixe-me falar... Meu falar já tem sua própria dor Não me venha causar-me outra Não me engane Deixe-me enganar Quando finjo em suas ideias acreditar Enquanto sorrisos brancos dissimulam diante de mim Eu vou dialogando com o meu ori Dizem que minha luta é uma afronta  Pensam que em minhas costas devem pisar Deixe-me falar Que nem tudo eu nasci para aceitar Aceito a natureza com que os ventos sobram Que o frio abraça Que o calor afasta Aceito o medo que vem Mas não o medo que se provoca Nem a frieza das respostas Dadas ao que indago Enquanto querem arrancar meu chão Caminho sorrindo no vento Não temo Não sou especialista em nada Mas aos que são Eu peço, deixe-me falar Esqueci como é me curvar Renuncio Este racismo em forma de cinismo  Enquanto surgem de má fé Dizendo que é assim que é: Branco fingindo ser negro Negro pensando que é branc

LETRAS

Minhas letras não conseguem escrever no quadro branco das salas universitárias, este é meu espanto. Meu cabelo quebra as regras minha estética permite subentendidos? não compreendo os civis egos fardados; meu pensar não pode ser controlado nem amordaçado, excluído do culto branco mundo das ideias Minhas palavras estão em meus olhos e a menina dos meus já cresceu com multidão de mulheres engrandeceu. Todas com cabeça erguidas não imita, nem revida apenas modifica o conformismo em altas doses que empurram nas gargantas, mas nem para todos isto adianta. Juliana Costa   06/07/2016  JF

IDEIAS-SENHORAS

A palavra é afiada pra quem aprendeu com a vida que é necessário lutar em todo o lugar. Aquele olhar de que sua presença incomoda não pelo que fazemos mas pelo que somos. somos cores e valores? " Somos o que somos" independente de qualquer opinião só não estamos dispostos a opressão, pois nosso curvar não terão. O passado está presente com roupas novas e grande sorriso. As ideias- senhoras minha mente questiona não aceita enfrenta, faz desmoronar.

ENTRE O ROSNAR E O AMAR

É necessário mostrar os dentes tornando ambíguo o sorriso: é um " rosnar" ou é amar? Não se preocupe por isto O meu sorriso rosna amando e ama rosnando mas não deixa de ser um sorriso. É necessário rosnar mas é necessário amar mas não é necessário o dissimular é preciso verdadeiramente dialogar Todo curvar tem sua dor Curvemos mas não nos convencemos pois nenhuma imposta ideia pode nos provocar social amnésia E as estástiticas pretas lado a lado das oportunidades brancas Temos um problema moral ou um problema de cor? Calma aí doutor! Eu não vivi quase quatrocentos anos Mas simbolicamente minha pele testemunha e o meu nome anuncia toda a histórica violência sofrida e até hoje socialmente nutrida. Mulheres indígenas ou negras é necessário mostrar os nossos dentes? É necessário rosnar é necessário amar Eu vivo aqui rosnando do meu jeito e amando