APENAS CINCO ANOS DE VIDA


Fico a pensar na minha idade real, 26 anos, sendo que 21 anos de minha vida passei não compreendendo o porquê de certas situações em que a minha pele sempre fazia a diferença quando as pessoas iriam se relacionar comigo. A calmaria da adolescência, o silêncio incômodo de quem da vida não sabia como participar mudou quando na universidade ingressei e conheci a violência dos pensamentos que diziam que meus ideais eram inferiores sem dizer por qual motivo eles eram.
Tenho cinco anos de vida, 26 de inquietações. Neste cinco anos aprendi a amar mais os outros, aprendi a não engoli inquietações e muito menos sapos. E encontrei uma família maravilhosamente preta que embalou -me nas conversas que enriqueceram o meu modo de pensar as coisas. Tenho cinco anos de vida e o peso do mundo já me dói as costas, mas me dizem não se preocupe com o mundo, penso: como não me preocupar ? se ele está em constante interação comigo.
Tenho cinco anos de vida e tenho que explicar para os "centenários" da acadêmia que pesquisador não é um Deus ou uma outra entidade divina, que ser humano produz excelentes pesquisas. Tenho cinco anos e já estou de saco cheio de muitos discursos e muitos sorrisos dissimulados que difundem ideologias que enaltecem os próprios egos. Tenho cinco anos e não tenho medo de errar, mas convivo com pessoas cheias de erros que sabem falar dos falsos acertos.
Tenho cinco anos e vejo racismo na Universidade, na boca de militante de esquerda ( do meio ou da direita rsrsrsrs) e vejo professores que não ensinam, fingem que ensinam, encenam sabedoria e meio as asnices cotidianas. Mas tive pouquíssimos bons professores, que pelo fato de eu ter cinco anos nunca me inferiorizaram em nada, apenas ensinaram-me.
Tenho cinco anos e odeio a brancura das ideias e dos juízos, choro quando vejo uma criança negra morta na favela, pois tenho cinco anos, venho e sou da periferia de alguma cidade, quando uma criança morre, sinto-me mãe aos cincos anos de idade e vejo meu filho morto pelo estado enquanto grande parte da sociedade, acha que todo corpo no chão de um espaço que não é condomínio é culpado.
Tenho cinco anos e estou disposta a metralhar esta sociedade, tiros sem misericórdia ... a queima- roupa nos campos simbólicos sociais . Cada palavra uma bomba silenciosa, sentidos esvoaçantes, opressões em queda. Tenho cinco anos e já amo este tipo de terrorismo, tenho cinco anos e tenho que conviver com as pessoas que criam uma imagem do quanto eu sou cruel em exigi o respeito que é meu por direito. Tenho cinco anos e não sei me comportar como uma boa moça, não sei sorrir por interesse, não finjo senti o que não sinto, escrevo o que penso, pensar é uma grande dor.
Tenho cinco anos, minha pele é preta, meus sonhos são negros... e não tenho medo de tiros e nem de egos.

Juliana Costa 02/02/2016

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