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OLHA PRA MIM


Jamais escreverei palavras negras elitizadas
Eu vim do chão e de lá me erguerei renunciando a amnésia
Cansei das palavras negras e escravizadas:
Por academias
Por livros
Por reconhecimento.
Jamais me considerarei negra
Se o negro que me compõe não entrar na Universidade
E parar de Sofrer com os donos da verdade
Serei uma ovelha negra em um rebanho acinzentado em uma inteligível regra
Não sou negra de vestes de linho
Não sou negra da classe média ou burguesa
Não sou negra de congressos
Não sou negra poetisa de ventos
Sou a negra favelada
Sou a negra lá de baixo sinhá Negra
Sou negra que não falou o inglês
Alguém olha pra mim?
                    Juliana Costa Março/2014 

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