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TERRAS DE SABIÁS


Na terra que quis Cabral
Tudo gira pelo capital
e militante é bicho que se mata com pau
De madrugada, longe do horário nobre nacional
E os acadêmicos querem brincar de militantes
Vai na comunidade diz que amigo
Mas só entra nesta pensando em seu umbigo
Enquanto morre os líderes
A lepra branca toma conta
Enquanto sozinhos indígenas e negros conhece a social afronta
daquela gente de lattes que para a luta é tudo covarde
Nesta terra que quis Cabral
O sangue escorre da bandeira nacional
Queremos discuti racismo, mas ninguém enxerga o cinismo
De quem diz que tudo anda bem
Mas não ouve os berros sufocados pelo desdém
Dessa gente que finge que é do bem
Não importa a aldeia
Não importa em qual morro
Sabe-se muito bem
Que bala que mata vem de alguém
mas noticiam que é um desconhecido
o responsável por todo este genocídio
Se somos nós que matamos, informa endereço e telefone
Se são ricos e poderosos,
se escondem de todas as formas o nome
enquanto os cães das fazendas e das mansões
roem eternamente nossos ossos
Pois quem manda na sociedade são os patrões
Querem cessar nosso pensamento
reduzir nossa luta em lamento
violentam-nos na surdina
Enquanto exibe na mídia uma postura fina
conquistando o povo.
Da semente do populismo
cresce os mais sutis oportunismos
eu ouço escorrer nos ralos
todo este sangue derramado
desta terra onde canta o sabiá
onde é melhor se silenciar
terra de assassinos desconhecidos
e escondidos
E que para viver é preciso se calar.
Embora se aumente os números das lápides
e das lágrimas
Jamais iremos parar de lutar. 
                                  Juliana Costa 03/03/2016 


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