Pular para o conteúdo principal

SÍNDROME DE SINHÁ

                                             À doutoras - sinhás

Pensa que tudo que é negro a si tem que se curvar
Seu pensar ergue ao seu ego um altar
Jura que o lindo é tudo que é alvo e fino
Sobre a pele negra quis ditar o destino
Mas para o seu desatino
Primeiro a noite se rebelou contra as estrelas
E nossa trajetória foi de lutas e sequelas
As herdeiras de sinhá
Hoje convivem com as herdeiras daquelas mulheres que foram   escravizadas
Frequentam o mesmo espaço
Embora o negro provoque ainda espasmo
Nada irá aprisionar nosso entusiasmo
De honrar quem por nós lutou
De lembrar de quem por nós morreu
E saber que nossa mente o véu branco não dominou

Algumas mulheres   brancas tem síndrome de sinhá
Todo o direito do negro pensa que extinguirá
E de tudo para isto fará
Lecionam em universidade
Creem únicas entendedoras
Da Arte e do dizer
Mas infelizmente é claro o que podemos ver
Que doutoramente se fazem opressoras
E de terríveis sintomas são detentoras:
Branquice absoluta, discursos contraditórios

em verborragia de estereótipos.

                                      Juliana Costa 01/05/2016  Juiz de Fora 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

AUTOSSABOTAGEM

É abafar o grito e forçar  um sorriso receptivo enquanto professa que somos todos iguais. É amarrar os próprios sonhos em uma âncora e lançá-los em profundo buraco. É ser visionário da desgraça Prever apenas os escombros do futuro e a dor É rasgar os próprios poemas, quebrar todos os lápis, queimar todas as folhas e explodir a caixa de energia de casa. Autossabotar É construir uma armadilha que captura apenas o interior É ter as próprias digitais no pescoço e ser a testemunha de acusação e o reú. É chorar e dizer que as lágrimas salgadas Não fazem arder as feridas É tropeçar no cadarço do sapato que não quis amarrar É entrar no rio sem saber nadar Ou se afogar mesmo sabendo. Sabotar é puxar o fio vermelho das ideias do inimigo. É escrever um poema Que mata, mas que não lhe suicida. Juliana Sankofa 12/07/2018

NOVA VIÇOSA

A memória caminha sorrindo, ferindo os pés nos paralelepípedos afiados das ruas... tropeça em galinhas, observa as rodas dos homens que não fixam os olhos em seu rebolar. Esquecidas as feridas das pedras, a poeira das ruas de terra não desgruda de toda a memória. Os risos brincam de pique-esconde com as dores Cães e gatos caminham paralelamente na mesma rota. Se o sol não brilhar no céu, brilha intensamente nos olhos De quem ver beleza até no dia cinzento de domingo. A memória percorre o bairro Proseia com a esperança Carrega no colo a alegria Descansa sentada na calçada Escuta o canto da rosa, Sente o cheiro-gosto do café ... continua a caminhar. Passos de quem não sabe para onde vai ... mas se move sem pressa, dançante... colhe as histórias. Enquanto isto ... A senhora mais velha do bairro Nunca compreendeu o porquê da memória nunca envelhecer, Ofereceu-lhe um copo de àgua Olhou os pés sujos e machucados e nos lábios o lindo sorriso faz contraponto. Pergunta-lhe o nome: Memória de

AQUILOMBAR

Aquilombar não é se esconder é enfrentar juntos a cara pálida do poder Também é dançar para afastar a dor e honrar quem já se foi É forjar laços mais fortes que aço incorruptíveis pelos egoísmos ocidentais É escuta É falas armas que se usam sem misericórdias Aquilombar é despir de tudo que nos finda Recusar nutrir a inveja branca, é amparar o grito no mesmo instante que ele é dado Segurar as mãos até que a dor passe e o sorriso raie. É dialogar principalmente entre nós, para nós e sobre nós. Desfazer-nos dos nós que atam as esperanças. Aquilombar é erguer o punho, mas também abaixá-lo no abraço-Forte. Juliana Sankofa  * Escrito em 22/02/2021