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PARTO ACADÊMICO

Acabei de pari, acharam que eu seria mais uma Bertoleza, mas nasceu pesando 30 páginas, teve que ser de cesariana, os "pais" foram muitos, tanto mulheres como homens e de diferentes tonalidade de pele. Já nasceu amaldiçoada a menina, falando pelos ventos, desconstruindo a semântica, mexendo nas certezas, irão querer assassina-la quando virar um ser público. Estou lutando pela sua guarda, participarei de uma audiência talvez em março, serei a advogada no meu próprio caso. Ah! faz-se necessário dizer das complicações da gravidez, haviam aquelas que queriam que a minha menina morresse na barriga pois não acreditavam na minha capacidade de gestar, haviam aqueles que juntamente com aquelas acreditavam que minha menina iria nascer acéfala. Minha menina nasceu, estou tomando os primeiros cuidados, quem sabe ela conquiste a simpatia acadêmica. Enquanto ainda desconheço o futuro, entre xícaras e xícaras de café, vou alimentando a menina para que cresça forte, mas jamais definida.

Juliana Costa 18/01/ 2016 JF/MG

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AUTOSSABOTAGEM

É abafar o grito e forçar  um sorriso receptivo enquanto professa que somos todos iguais. É amarrar os próprios sonhos em uma âncora e lançá-los em profundo buraco. É ser visionário da desgraça Prever apenas os escombros do futuro e a dor É rasgar os próprios poemas, quebrar todos os lápis, queimar todas as folhas e explodir a caixa de energia de casa. Autossabotar É construir uma armadilha que captura apenas o interior É ter as próprias digitais no pescoço e ser a testemunha de acusação e o reú. É chorar e dizer que as lágrimas salgadas Não fazem arder as feridas É tropeçar no cadarço do sapato que não quis amarrar É entrar no rio sem saber nadar Ou se afogar mesmo sabendo. Sabotar é puxar o fio vermelho das ideias do inimigo. É escrever um poema Que mata, mas que não lhe suicida. Juliana Sankofa 12/07/2018

NOVA VIÇOSA

A memória caminha sorrindo, ferindo os pés nos paralelepípedos afiados das ruas... tropeça em galinhas, observa as rodas dos homens que não fixam os olhos em seu rebolar. Esquecidas as feridas das pedras, a poeira das ruas de terra não desgruda de toda a memória. Os risos brincam de pique-esconde com as dores Cães e gatos caminham paralelamente na mesma rota. Se o sol não brilhar no céu, brilha intensamente nos olhos De quem ver beleza até no dia cinzento de domingo. A memória percorre o bairro Proseia com a esperança Carrega no colo a alegria Descansa sentada na calçada Escuta o canto da rosa, Sente o cheiro-gosto do café ... continua a caminhar. Passos de quem não sabe para onde vai ... mas se move sem pressa, dançante... colhe as histórias. Enquanto isto ... A senhora mais velha do bairro Nunca compreendeu o porquê da memória nunca envelhecer, Ofereceu-lhe um copo de àgua Olhou os pés sujos e machucados e nos lábios o lindo sorriso faz contraponto. Pergunta-lhe o nome: Memória de
A Maré não está para peixe Nem pra preto O anzol é o Estado A bala também. Que passado é este  que não deixa de ser passado para nós?