Eu lembro da senzala e dos meus pés pedindo autorização.. cabeças baixas e o silêncio, ferro invisível na garganta, que se era obrigada a fazer para não despertar o sinhô nem a sinhá. Ai! se eu não me comportasse... Era tronco. Era sede. Era fome. Era eu. Eu lembro da senzala por que os sinhôres do meu tempo ainda pensam que eu sou escrava. Apesar de me tratarem com a mesma desumanidade, quando começo a adentrar seus lugares de privilégio repleta de meus inúmeros por quês. Sentem na alma a mesma fúria histórica, inexplicável, mas histórica. Exerço com força os meus atos de fala e mesmo que me ofereçam, gentis, uma máscara de flandres com as minhas medidas, insisto em desagradar, recusando - a. Diante da minha audácia, todos estes cidadãos de bem perguntam-me: - Onde está localizado o seu quilombo? Eu respondo: - Em um lugar que os sinhôres não foram convidados a entrar. E violentos insistem: - Mas nós temos o direito de saber, negra, se coloque em s