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Mostrando postagens de junho, 2017

IMAGENS RASGADAS

O meu pisar no chão Provoca terremotos em escala máxima em suas estruturas. Meu olhar sempre em riste não acredita facilmente em palavras... Se somos cheios de enigmas e não pensem que desvendaram  todos os meus. Escrevo e a reajo à todo sentido imposto. Quebro os tijolos antes que se ergam mais muros que lhes escondem das coisas que fazem. Chorar por Portugal ou por Paris  Não lhe faz um humano de primeiro mundo, Quem sabe mais um em sentimento fajuto? Não adianta fingirem que não escutam. Seus tímpanos embora mais brancos que o comum não são fortalezas seguras nem mesmo quando eu sussurro. Se ensinam... como ensinam? Eu quero professores e não sinhôres Não façam da sala de aula uma cordial trincheira onde o pensamento é uma planta sempre seca. Quando piso o chão nada dos meus olhos se escondem, aguçadas ficam minhas percepções. No meu peito até ferve emoções E até compreendo por que de mim saem palavras – tufões... Meu olhar

BOOO !

A minha imagem anda colonizada pelos medos alheios. Duvidem de mim e das outras imagens que me rodeiam. Sou um horizonte onde a água despenca no infinito; Sou o mais terrível dos monstros cuja morada é o seu profundo; primeiro mostro a minha  face bonita antes de devorá-los. Sou a esfinge de nariz em pé, A boneca preta que não se encontra em vitrines ... Sou palavras, lágrimas e tempestades fora de copo d’águas ... Menos humana, pois para ser uma eu preciso ser a sua imagem e semelhança... Minha boca verde quer devorar ; Meus olhos grandes são para lhe enxergar E minhas orelhas redondas são para captar a frequência da sua alma saindo pela boca. Não sou chique por que não habito o lago Ness. Sou uma pitada de pimenta Mas nunca fui amarga. Meus cabelos anda pelo ar Não fuja Não são cobras Talvez apenas  ideias transmitidas em meus fios crespos Mas cobras, não, eu lhe juro. Tenho certeza que meus fios os seus olhos não fur

EU JÁ PERDI A CONTA

Tire suas contas do pescoço Se não sabe renunciar seus privilégios Prepare um bom banho Para tirar de si toda esta ideologia racista que lhe impede de ver Orixá é preto, isto é sem mistério Sacrilégio, por que transforma em branco tudo que tocam? Oxum é muito mais que uma mulher branca Ao lado de uma manjedoura. Tire suas contas do pescoço Nem ouse pedir a justiça de Xangô Saiba que orixá não é anjo de sinhô Nem muito menos protetor de sinhá Desculpe, mas já não consigo mais me calar Nem com a mesma calmaria os absurdos consigo mais ouvir Estou cansada de esperar este tão sonhado porvir Que dessa língua- pátria O racismo Irão extinguir. Eu já perdi a conta  dos tantos silêncios  que me impuseram  já que o meu pensar  desmitifica sua história. Juliana Sankofa  19/06/2017 

PRECE COLONIZADA

Oxalá, Sinto quebrar em minhas mãos   as armas que me ofereceu para esta luta que não tem trégua até mesmo se eu sentar à mesa com os opressores. Sinto um rio barrento tocar a minha alma, enquanto os barquinhos brancos de brancura intocável navegam  harmoniosos Eu me perco neste barro, o mesmo de Adão e Eva. Oxalá, Colonizado foi até o meu modo de fazer prece, minha língua sempre indigente  busca no meio dos barulhos das ideias o mais profundo que eu possa ser. Algo dentro de mim me traga. Meus pés firmes catam palavras na areia . Juliana Costa 18/06/2017 

COORDENADAS DE UM QUILOMBO

Eu lembro da senzala  e dos meus pés pedindo autorização.. cabeças baixas e o silêncio, ferro invisível na garganta, que se era obrigada a fazer para não despertar o sinhô nem a sinhá. Ai! se eu não me comportasse... Era tronco. Era sede. Era fome. Era eu. Eu lembro da senzala por que os sinhôres do meu tempo ainda pensam que eu sou escrava. Apesar de me tratarem com a  mesma desumanidade, quando começo a adentrar seus lugares de privilégio repleta de  meus inúmeros por quês. Sentem na alma a mesma fúria histórica, inexplicável, mas histórica. Exerço  com força os meus atos de fala e mesmo que me ofereçam, gentis, uma máscara de flandres com as minhas medidas, insisto em desagradar, recusando - a. Diante da minha audácia, todos estes cidadãos de bem perguntam-me: - Onde está localizado o seu quilombo? Eu respondo: - Em um lugar que os sinhôres não foram convidados a entrar. E violentos insistem: - Mas nós temos o direito de saber, negra, se coloque em s

DESCOSTURANDO O SILÊNCIO

                      Dedicado a Giane Elisa Sales de Almeida como forma de gratidão.  O silêncio pesa no peito, queima a garganta. É meditação só para gente privilegiada que quando cansa de falar se silencia . Mas para nós que já nascemos socialmente no silêncio a voz é que se faz nossa meditação . Palavras enterradas nas gargantas não fazem revolução. Escrevo enquanto  descosturo da boca  o silêncio  Juliana Costa JF/MG 18/06/2017  

O BURACO

Abri um buraco na terra, Toquei aquele pó escuro e macio Que ao mesmo tempo que  frágil era resistente, fiquei na dúvida se eu enterrava... ou plantava, pois o buraco servia para as duas coisas. Fui retirando da garganta Uma por uma Achei que um buraco não ia ser suficiente, mas a medida que elas iam caindo mais profundo ficava o buraco. No fim eu não sabia se o buraco era na terra ou em  mim. Juliana Costa 12/06/2017 JF/MG