Pular para o conteúdo principal

SUBLINGUAL

O silêncio
não é analgésico
para toda essa violência
simbolicamente física
que somos expostos cotidianamente. 

Já acostumaram em nós ver tranquilos
Quando eles exercem seus domínios
simbólicos, culturais e sociais ....
Já acostumaram a desparafusar o seu cérebro,
a quebrar todos os seus lápis
e a roupar suas palavras
com um sorriso nos lábios
e ainda nos vendem a ideia de serem revolucionários.
O colonizador é sempre culto,
educado, simpático, um ser do bem...
E você nessa mania de reclamar,
se torna o violento
ou mal amado.
Até os seus
nisto acreditam.

Finja que tomou o analgésico
Coloque debaixo da língua...
Na minha oportunidade que tiver 
Cuspa!
Com força
na cara do sistema.


 Se lhe internarem, 
nos presídios ou na solidão social ...
finja novamente que se convenceu
de que Jesus é um homem branco,
sim, seu salvador...
Que vale na vida o trabalho
apesar dos salários desiguais 
Que sem estudo ninguém é nada
Mas também não muda de pele
Nas universidades encontrar o epistemicídio 
Nas ruas o genocídio 
Mas não esqueça de tomar dessa vez o analgésico
colocar óculos escuros 
fingi que não sente dor.

Juliana Costa  04/07/2017


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

AUTOSSABOTAGEM

É abafar o grito e forçar  um sorriso receptivo enquanto professa que somos todos iguais. É amarrar os próprios sonhos em uma âncora e lançá-los em profundo buraco. É ser visionário da desgraça Prever apenas os escombros do futuro e a dor É rasgar os próprios poemas, quebrar todos os lápis, queimar todas as folhas e explodir a caixa de energia de casa. Autossabotar É construir uma armadilha que captura apenas o interior É ter as próprias digitais no pescoço e ser a testemunha de acusação e o reú. É chorar e dizer que as lágrimas salgadas Não fazem arder as feridas É tropeçar no cadarço do sapato que não quis amarrar É entrar no rio sem saber nadar Ou se afogar mesmo sabendo. Sabotar é puxar o fio vermelho das ideias do inimigo. É escrever um poema Que mata, mas que não lhe suicida. Juliana Sankofa 12/07/2018

NOVA VIÇOSA

A memória caminha sorrindo, ferindo os pés nos paralelepípedos afiados das ruas... tropeça em galinhas, observa as rodas dos homens que não fixam os olhos em seu rebolar. Esquecidas as feridas das pedras, a poeira das ruas de terra não desgruda de toda a memória. Os risos brincam de pique-esconde com as dores Cães e gatos caminham paralelamente na mesma rota. Se o sol não brilhar no céu, brilha intensamente nos olhos De quem ver beleza até no dia cinzento de domingo. A memória percorre o bairro Proseia com a esperança Carrega no colo a alegria Descansa sentada na calçada Escuta o canto da rosa, Sente o cheiro-gosto do café ... continua a caminhar. Passos de quem não sabe para onde vai ... mas se move sem pressa, dançante... colhe as histórias. Enquanto isto ... A senhora mais velha do bairro Nunca compreendeu o porquê da memória nunca envelhecer, Ofereceu-lhe um copo de àgua Olhou os pés sujos e machucados e nos lábios o lindo sorriso faz contraponto. Pergunta-lhe o nome: Memória de

AQUILOMBAR

Aquilombar não é se esconder é enfrentar juntos a cara pálida do poder Também é dançar para afastar a dor e honrar quem já se foi É forjar laços mais fortes que aço incorruptíveis pelos egoísmos ocidentais É escuta É falas armas que se usam sem misericórdias Aquilombar é despir de tudo que nos finda Recusar nutrir a inveja branca, é amparar o grito no mesmo instante que ele é dado Segurar as mãos até que a dor passe e o sorriso raie. É dialogar principalmente entre nós, para nós e sobre nós. Desfazer-nos dos nós que atam as esperanças. Aquilombar é erguer o punho, mas também abaixá-lo no abraço-Forte. Juliana Sankofa  * Escrito em 22/02/2021