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CODINOME MAMBA NEGRA



Sou a flor que não se cheira,
Mas nunca fui nenhuma rosa radioativa.
O veneno que escorre de meus lábios
Viram linhas, tornam-se versos
Eu metralho pessoas com palavras
a sangue frio e ao meio- dia.
Mas juro que não fui eu que criei Auschwitz.

Não produzo em minha boca
nenhuma amostra de Chernobyl.
Não fabrico dinamites entre as pernas
Mas em mim impera inúmeras explosões...
as quais ninguém se queima.

Sim, sou uma mamba negra
com o sorriso de uma caninana
e com uma simpatia de sucuri,
mas não precisa ter preocupação alguma
Quando nasci
foi em legítima defesa.


Juliana Costa JF/MG

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