Pular para o conteúdo principal

FOGO



Conheço bem
estas gentes de tochas
e capuz branco.
Essa crença doentia
de que não merecemos sermos reconhecidos como iguais
promove diárias atrocidades
e as estatísticas transformam em números
aquilo que é humano.

Acendam as tochas!
posso até acender com elas o meu cigarro,
cuspi nas chamas,
rir em suas caras...
mas sei que me preferem
como fruto proibido pendurado
em árvores:
boa lição para os rebeldes,
pedagogia violenta
que esquece que o amor
“é fogo que arde sem se ver
é ferida que dói e não se sente”.
O fogo que carregam nas tochas
não honra se quer os poetas da mesma cor de pele

Não faça do fogo o teu Deus
Já que consideraram primitivos
aqueles que o faziam.
Aceitem, que os tempos são outros.
Embora gente de tochas
estejam em todos os lugares...
irão se assustar com a força
e a velocidade do vento a soprar.
Eu talvez não coloque uma máscara
e muito menos uma luva...
Talvez nem erga alguma arma
Sentarei
ao seu lado dos cafés gourmet
beberei no mesmo bebedor
pedirei no restaurante o mesmo prato,
darei palestras ao seu lado...
Enquanto sorrir desconfortável.
Como agora,
Eu, aos poucos, lhe mato.


Juliana Costa JF/MG 14/08/2017 

Comentários

  1. A verdade é bem essa! "Gente de tochas tem em todos os lugares"
    As tochas têm variadas formas. Todas ardem!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

AUTOSSABOTAGEM

É abafar o grito e forçar  um sorriso receptivo enquanto professa que somos todos iguais. É amarrar os próprios sonhos em uma âncora e lançá-los em profundo buraco. É ser visionário da desgraça Prever apenas os escombros do futuro e a dor É rasgar os próprios poemas, quebrar todos os lápis, queimar todas as folhas e explodir a caixa de energia de casa. Autossabotar É construir uma armadilha que captura apenas o interior É ter as próprias digitais no pescoço e ser a testemunha de acusação e o reú. É chorar e dizer que as lágrimas salgadas Não fazem arder as feridas É tropeçar no cadarço do sapato que não quis amarrar É entrar no rio sem saber nadar Ou se afogar mesmo sabendo. Sabotar é puxar o fio vermelho das ideias do inimigo. É escrever um poema Que mata, mas que não lhe suicida. Juliana Sankofa 12/07/2018

NOVA VIÇOSA

A memória caminha sorrindo, ferindo os pés nos paralelepípedos afiados das ruas... tropeça em galinhas, observa as rodas dos homens que não fixam os olhos em seu rebolar. Esquecidas as feridas das pedras, a poeira das ruas de terra não desgruda de toda a memória. Os risos brincam de pique-esconde com as dores Cães e gatos caminham paralelamente na mesma rota. Se o sol não brilhar no céu, brilha intensamente nos olhos De quem ver beleza até no dia cinzento de domingo. A memória percorre o bairro Proseia com a esperança Carrega no colo a alegria Descansa sentada na calçada Escuta o canto da rosa, Sente o cheiro-gosto do café ... continua a caminhar. Passos de quem não sabe para onde vai ... mas se move sem pressa, dançante... colhe as histórias. Enquanto isto ... A senhora mais velha do bairro Nunca compreendeu o porquê da memória nunca envelhecer, Ofereceu-lhe um copo de àgua Olhou os pés sujos e machucados e nos lábios o lindo sorriso faz contraponto. Pergunta-lhe o nome: Memória de

UMA MULHER COMO EU

Talvez uma mulher como eu estivesse na cozinha do paraíso preparando quitutes e na hora de contar a história da criação o Senhor dela se esqueceu, relegou-a ao papel de rascunho de um texto santo que não soube continuar. Talvez nas narrativas nem tão santas de uma história mal contada Uma mulher como eu estivesse organizando os papéis limpando as penas servindo chás e que depois sorrindo dizia que era mulher também, mas as companheiras não ouviam, agradeciam os chás, as penas e os papéis e gentilmente pedia que quando terminassem de escrever que esta mulher como eu limpasse tudo para que o esposo não reclamasse. Uma mulher exatamente como eu sentada em um sala de aula onde o quadro negro era quase um semelhante. Atenta, ouvia as teorias sobre mulheres aprendendo que somos todas iguais enquanto milhares de fotos de mulheres brancas se projetavam na tela branca cuja escuridão era necessária para serem vistas. Juliana Sank