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TIRE TODO ESTE MAR



Não sei se digo
Ou não digo,
mas me incomoda bastante esta corda em volta do seu pescoço.
Insisto em bater na porta do seu quarto de silêncio,
Entretanto eu não sei bem o que fazer
Se me mostro indiferente até para  a minha própria dor,
Se eu prefiro tacar logo os verbos...
Neste sujeito indeterminado que nos oprimem.

Não sei se digo,
Por que parece que o mundo anda exigindo palavras demais,
Ações de mais...
Mas os abraços ficaram retraídos pelos gritos de protesto
e o afeto é um bandeira que não levantamos nem mesmo entre a gente.

Não sei se digo, mas dói a garganta quando não digo
Entre pétalas da flor de nossa história
Sempre existiu  um bem me quer
Embora haja o mal.
Digo
sem a esperança de ser compreendida
se nossa sociedade é uma babel destruída
 também por  um "bom senhor."

Ainda digo,
Sinto tantas raivas,
Tantas mesmas
que esta corda que lhe enrosca
me machuca inteiramente.
Por favor,
Não leva a mal as minhas palavras
Digo
Também atiro
Mas não deixo de ser uma boa menina.

Peço-lhe tire todo este mar
que nos separa
que está repletos de corpos
ou de íris.
Sei que só um homem andou sobre as águas
pintaram-no de branco
por não aceitaram tamanha grandiosidade de um  santo Outro.
Eu posso caminhar neste mar,
mas só se for ao teu lado
quem saiba brinquemos com todas estas mágoas 
e façamos barquinhos de papel com os folhetins do século XIX...
Tire todo este mar ...
e olhos nos meus olhos e me diga:
Eu sou sua amiga ou inimiga? 

Juliana Costa  25/08/2017

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