UMA MULHER COMO EU

Talvez uma mulher como eu
estivesse na cozinha do paraíso
preparando quitutes
e na hora de contar a história da criação
o Senhor dela se esqueceu,
relegou-a ao papel de rascunho
de um texto santo que não soube continuar.

Talvez nas narrativas nem tão santas
de uma história mal contada
Uma mulher como eu
estivesse organizando os papéis
limpando as penas
servindo chás
e que depois sorrindo dizia que era mulher também,
mas as companheiras não ouviam,
agradeciam os chás, as penas e os papéis
e gentilmente pedia que quando terminassem de escrever
que esta mulher como eu
limpasse tudo
para que o esposo não reclamasse.

Uma mulher exatamente como eu
sentada em um sala de aula
onde o quadro negro
era quase um semelhante.
Atenta, ouvia as teorias sobre mulheres
aprendendo que somos todas iguais
enquanto milhares de fotos de mulheres brancas
se projetavam na tela branca
cuja escuridão era necessária
para serem vistas.

Juliana Sankofa  JF/MG 02/10/2017 



*** imagem encontrada na internet e cuja autoria está se pesquisando.

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