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Mostrando postagens de novembro, 2017

MALDIÇÃO BRANCA DO 20 DE NOVEMBRO

     Meu corpo até arrepia de contar-lhes sobre isto, mas enfim, eu posso até morrer logo após este relato. Foi neste ano, o céu já amanheceu estranho, nem um pardal voava ou cantava, apenas aquela multidão de pássaros brancos, estilo pomba da paz, cobriam tudo. A Lalinha só pela manhã matou uns 20 que davam o ar da graça na janela de casa, eram todos iguais, não via beleza alguma neles, era medonhos, tinha olhares de certeza sobre tudo que sobrevoavam, parecia até a colonização, mas era e não era. Resolvi acender a vela para o Ori, proteção, meus lábios tamboreiavam algumas letras, no instante a passarada voava como se tivessem crianças- espíritos correndo atrás. O sossego veio, Lalinha já havia garantido a refeição do mês todo, bichinha estranha, lambia as patas de satisfação e implicava com aquilo que eu não via por ter acabado com a sua diversão. O céu continuava branco, até parecia o cérebro da sociedade, era assustador. Telefonemas, e-mails, textões na internet pessoas...

!!!!!!!!!!!!

A indignação é minha, não é sua diversão, nem funciona quando suas mãos brancas apertam o botão. É MINHA mas nunca quis a ter, Aprendi a ser mulher a carregando no colo, a danada nunca dormia. Juliana Costa 28/11/2017 

DEVORADOR DE BRANCOS

É necessário devorar, mesmo que não seja de primeira o que se come. mastigar devagarzinho, atentando-se pelas migalhas históricas que descuidadas caem da boca. Uma refeição sem nutrientes, Mas repletas de fibras simbólicas  que poderão mudar os rumos da história. Comerá para poder aprimorar a visão, Observar as sutilezas das  bestas coisas que vem triturando nos dentes crianças pretas. Enquanto come É preciso ignorar o nojo, Comê-los é impedir que nos coma. honrando  o dito popular: Não se arrota o que de fato se come. Juliana Costa 25/11/2017 

UMA PITADINHA DE LIRISMO NA TRISTEZA

A tristeza saqueia dos olhos o brilho e um pedaço da alma. Des-criança a infância Deixa decrépita a juventude Transforma em lápide a velhice... Sei que tristeza não são os versos que se espera ler em um poema... Não posso falar de flores se vejo o chão social infértil para elas. Não posso falar de esperança se a corda na forca jamais arrebentou para o lado mais fraco. Queria falar sobre sorrisos estes que mendigam tantas faces, como bem eu queria falar que o abraço ressuscita só se tiramos de nós os arames farpados. Quero falar de tristeza a senhora a qual não me curvo, mas que me enche com frequência de chibatas.

QUEM ENXUGA AS NOSSAS LÁGRIMAS?

                                                                     Dedicado a Fran Nascimento Quando brotam nossas lágrimas secam sozinhas... Simulam na pele a turbulência angustiante do mar do século XVI. Líquido que por nosso corpo é absorvido, enquanto o racismo segue absolvido de todos os seus crimes históricos. Opressor sem rosto não chora. Erguemos o punho, Com antebraço  secamos o suor, Secamos as lágrimas, a prova da dor, a inteligível e indizível indesejada dos brancos... O sono se torna prisioneiro eterno da insônia Pensamentos em pele, nada de flor. Sim, há o desejo a busca de um ombro sem cor para conter o incontido por trás das lágrimas. Sempre tem o vento Que sopra com força a minha face, Animando-me para a vida... mesmo que ela venha vestida de luta Varre minha face Como quem espera visitas Um sorriso talvez. Juliana Costa 19/11/2017 JF/MG 

ELAS E EU

Já me vi Helena, Penélope E até mesmo Antígona. Enquanto nunca se viram Nzinga, Dandara  E até mesmo Bertoleza.. Seria estranho se Helena se visse Nzinga ou Penélope se visse Dandara E quem sabe Antígona se visse Bertoleza? Talvez Helena tivesse mais sede de tróia Do que da convivência com Nzinga Ou Penélope mais a Ítaca Do que tecer com Dandara novas linhas E Antígona preferisse uma prosa com Bertoleza Ao invés de ambas  se tornassem o fim de uma tragédia. Enquanto penso nestas coisas vou tecendo sem desmanchar o que eu quero que o mundo entenda fios com sangue de Bertoleza... Juliana Costa 16/11/2017 JF/MG

EM BUSCA DE COISAS BONITAS

Queria dizer coisas bonitas, falar de cômodos da casa ou de amores  inúteis. Quem dera seu pudesse dizer do meu desassossego melancólico sobre tudo. Ah! Se eu pudesse escrever odes  ou sonetos... Sabe  que os meus semelhantes já foram encaixados em tudo: nas entrelinhas das grades e no des-lirismo do subemprego. Não faço poesia pra lamentar, pois poesia boa é aquela que geme sorrindo E que diz bem bonitinho: “Branco você tem sempre razão”. Juliana Costa  Belo Horizonte 10/11/2017 

MULHER NADA QUALQUER

Com tudo se pode fazer poesia, Entretanto não a faço falando de quartos ou salas de estar. Minha poesia é muito mais do que intimista, Intimida. Não escrevo sobre lábios íntimos, Nem faço poesia das coisas tristes que nunca falei A palavra me penetra, mas não emito gemidos Ou peço condolências. Minhas mãos estão calejadas, cansadas da luta pousam no papel. Escrevo por indisposição Em tolerar o seu racismo, E de fingir que não enxergo o cinismo escrito em letras oficiais. A poesia que escrevo é uma mulher  que envenena as sinhás enquanto degola os sinhôs. Ela não é qualquer mulher. Juliana Costa 01/11/2017