NEGRA FUJONA

Discurso é poder.
Irei falar de racismo sim
apenas para me defender
do seu cinismo que oculta
os corpos negros da nossa história

Irei evidenciar o que julga ser invisível:
esta brancura apática diante de nós
Saibam que para nós
 são  vocês que são os Outros.
A minha palavra vai dissecar
pedacinho por pedacinho
deste corpo que se diz universal
mas que nunca se deparou com a violência policial.
Não me leva a mal, não sinta medo
O demônio anda de caravelas
desde que Brasil era Santa Cruz.
A Santa Cruz que os negros carregam  até hoje.
Não venha com esta história
de que a liberdade foi trocada por espelhos  europeus.
Pois desde que eu era pequenina minha mãe já me ensinava:
Se não é seu, não roubeColonizador é mesmo um bicho sem mãe,
mas tinha  pátria,
tinha fé.
Em nome de tudo que era para ele mais sagrado
através de sucessivos estupros
machucou até o ventre desta terra.

Sei que poetas como eu
os críticos querem colocar no tronco
chibatando suas teorias
que só nos validam
se escrevermos como brancos
e para brancos.
Leiam as entrelinhas dos meus versos
são nelas onde eu escondo
aquilo que lhe mata:
Minha liberdade,
a negra fujona que todo mundo quer matar.

Juliana Costa 17/01/2018 JF/MG



Comentários

Postagens mais visitadas