Pular para o conteúdo principal

PONTES ÚMIDAS

Mulheres negras
não caminham sobre as águas ...
Caso pudessem fazer tal façanha
iriam brincar juntas nas lágrimas
de cada uma de nós.
Jamais caminhariam sobre o mar
cemitério histórico dos esquecidos.
Para esconder um grande crime,
criaram um grande milagre:
O homem branco caminhou sobre o mar
e o pecador nele se afogou,
pois santos caminham sobre as águas...
se não tiverem os pés e mãos amarrados.

Não tem como fingir não sentir
o odor mofado das naus do século XVIII
contaminando todo o nosso ar.
Ainda escrevem a história com penas
e tinta das neglicências …
É dificil distinguir
qual é a diferença de uma monarquia branquíssima
de uma democracia mais branca ainda.

Deixem os meninos correrem pelas ruas
vestidos de negro...
Ó pátria jamais pode ser amada,
Não devoto amor às sinhás. 

O mar é  português? 
grande mito dos genocidas.
A nossa rainha caminha livre nas ondas 
cuidando da nossa memória,
descobridor algum 
ousou pisar no território de nossas cabeças.
Nossos olhos criam pontes úmidas
entre nós e os nossos antepassados. 




Juliana Costa 18/06/2018 JF/MG 







Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

AUTOSSABOTAGEM

É abafar o grito e forçar  um sorriso receptivo enquanto professa que somos todos iguais. É amarrar os próprios sonhos em uma âncora e lançá-los em profundo buraco. É ser visionário da desgraça Prever apenas os escombros do futuro e a dor É rasgar os próprios poemas, quebrar todos os lápis, queimar todas as folhas e explodir a caixa de energia de casa. Autossabotar É construir uma armadilha que captura apenas o interior É ter as próprias digitais no pescoço e ser a testemunha de acusação e o reú. É chorar e dizer que as lágrimas salgadas Não fazem arder as feridas É tropeçar no cadarço do sapato que não quis amarrar É entrar no rio sem saber nadar Ou se afogar mesmo sabendo. Sabotar é puxar o fio vermelho das ideias do inimigo. É escrever um poema Que mata, mas que não lhe suicida. Juliana Sankofa 12/07/2018

NOVA VIÇOSA

A memória caminha sorrindo, ferindo os pés nos paralelepípedos afiados das ruas... tropeça em galinhas, observa as rodas dos homens que não fixam os olhos em seu rebolar. Esquecidas as feridas das pedras, a poeira das ruas de terra não desgruda de toda a memória. Os risos brincam de pique-esconde com as dores Cães e gatos caminham paralelamente na mesma rota. Se o sol não brilhar no céu, brilha intensamente nos olhos De quem ver beleza até no dia cinzento de domingo. A memória percorre o bairro Proseia com a esperança Carrega no colo a alegria Descansa sentada na calçada Escuta o canto da rosa, Sente o cheiro-gosto do café ... continua a caminhar. Passos de quem não sabe para onde vai ... mas se move sem pressa, dançante... colhe as histórias. Enquanto isto ... A senhora mais velha do bairro Nunca compreendeu o porquê da memória nunca envelhecer, Ofereceu-lhe um copo de àgua Olhou os pés sujos e machucados e nos lábios o lindo sorriso faz contraponto. Pergunta-lhe o nome: Memória de

AQUILOMBAR

Aquilombar não é se esconder é enfrentar juntos a cara pálida do poder Também é dançar para afastar a dor e honrar quem já se foi É forjar laços mais fortes que aço incorruptíveis pelos egoísmos ocidentais É escuta É falas armas que se usam sem misericórdias Aquilombar é despir de tudo que nos finda Recusar nutrir a inveja branca, é amparar o grito no mesmo instante que ele é dado Segurar as mãos até que a dor passe e o sorriso raie. É dialogar principalmente entre nós, para nós e sobre nós. Desfazer-nos dos nós que atam as esperanças. Aquilombar é erguer o punho, mas também abaixá-lo no abraço-Forte. Juliana Sankofa  * Escrito em 22/02/2021