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A Maré não está para peixe
Nem pra preto
O anzol é o Estado
A bala também.
Que passado é este 
que não deixa de ser
passado para nós? 



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AUTOSSABOTAGEM

É abafar o grito e forçar  um sorriso receptivo enquanto professa que somos todos iguais. É amarrar os próprios sonhos em uma âncora e lançá-los em profundo buraco. É ser visionário da desgraça Prever apenas os escombros do futuro e a dor É rasgar os próprios poemas, quebrar todos os lápis, queimar todas as folhas e explodir a caixa de energia de casa. Autossabotar É construir uma armadilha que captura apenas o interior É ter as próprias digitais no pescoço e ser a testemunha de acusação e o reú. É chorar e dizer que as lágrimas salgadas Não fazem arder as feridas É tropeçar no cadarço do sapato que não quis amarrar É entrar no rio sem saber nadar Ou se afogar mesmo sabendo. Sabotar é puxar o fio vermelho das ideias do inimigo. É escrever um poema Que mata, mas que não lhe suicida. Juliana Sankofa 12/07/2018
É preciso acariciar os pés de quem anda ao seu lado. A vida deixa sentimentos calejados quando não há reciprocidade. Uma caminhada sozinha e cheia de vozes, sem toques, parece miragem em deserto onde a lágrima ora é um oásis. Sede estranha, fome mais estranha ainda. Meus grãos de areia esbarram nos dos outros e assim se movimenta o tempo, peito-ampulheta. Eu aqui, escorada na caneta, pensando se minhas palavras fazem sentido. Pergunto-me: Por que me sinto sozinha enquanto olho nos pés tantas feridas. Juliana Sankofa Fonte da imagem: Pinterest (https://pin.it/2YPdQeh6I)