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NEGRAÇÕES


Não limparei as bibliotecas mofadas dos brancos 
Não apontarei seus lápis, nem organizarei suas canetas 
No papel branco desenharei flores negras
cujos espinhos não são maiores que as pétalas
Não ensinarei  teorias brandas 
e muito menos brancas...
Rabiscarei no quadro negro 
o peso da mordaça histórica 
que nos impuseram.
Seleciono as palavras soterradas pelos silêncios
Digo em voz mansa as desgraças que o privilégio
dos  outros
provocam em nós. 

Não me peça para sorrir,
Transforme água em vinho,
mas não transforme seu medo em violência 
Minha voz firme 
faz tremer os seus pés.
Não engulo o seu feminismo
cheio de ondas 
que só reconhece Iemanjá
se for branca. 

Juliana Sankofa

29/07/2018 Viçosa- MG 


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AUTOSSABOTAGEM

É abafar o grito e forçar  um sorriso receptivo enquanto professa que somos todos iguais. É amarrar os próprios sonhos em uma âncora e lançá-los em profundo buraco. É ser visionário da desgraça Prever apenas os escombros do futuro e a dor É rasgar os próprios poemas, quebrar todos os lápis, queimar todas as folhas e explodir a caixa de energia de casa. Autossabotar É construir uma armadilha que captura apenas o interior É ter as próprias digitais no pescoço e ser a testemunha de acusação e o reú. É chorar e dizer que as lágrimas salgadas Não fazem arder as feridas É tropeçar no cadarço do sapato que não quis amarrar É entrar no rio sem saber nadar Ou se afogar mesmo sabendo. Sabotar é puxar o fio vermelho das ideias do inimigo. É escrever um poema Que mata, mas que não lhe suicida. Juliana Sankofa 12/07/2018
A Maré não está para peixe Nem pra preto O anzol é o Estado A bala também. Que passado é este  que não deixa de ser passado para nós? 
É preciso acariciar os pés de quem anda ao seu lado. A vida deixa sentimentos calejados quando não há reciprocidade. Uma caminhada sozinha e cheia de vozes, sem toques, parece miragem em deserto onde a lágrima ora é um oásis. Sede estranha, fome mais estranha ainda. Meus grãos de areia esbarram nos dos outros e assim se movimenta o tempo, peito-ampulheta. Eu aqui, escorada na caneta, pensando se minhas palavras fazem sentido. Pergunto-me: Por que me sinto sozinha enquanto olho nos pés tantas feridas. Juliana Sankofa Fonte da imagem: Pinterest (https://pin.it/2YPdQeh6I)