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Mostrando postagens de 2019

A ODISSEIA DA FLOR

                                            Homenagem a Silvia Priore, uma flor de teimosias . Basta um instante Para brindarmos as lembranças, Fotografias da mente Repletas de sons. Os risos ou as lágrimas   da memória iluminam a face do presente. Do quartinho minúsculo a amplidão do mundo, os desafios foram dores esquecidas. Pessoas se foram, outras chegaram. Amores? Quem sabe... A mineiridade da paulista Jeitinho “come quieto” de quem sabe que a vida é mesmo um trem cheio de vagões-pensamentos. Viveu-se o incontável também o inarrável, a flor e sua odisseia. Das lutas,   uma mulher que atira pelo sorriso. Tramas não percebidas, Coragem estranha viva nos olhos assim se foram os anos... Agora, um dos amores da poeta: Admiradora das suas histórias e contundente quando briga. Aliás, quantas brigas? Quantas lágrimas? Não importa. Na face rosa Meus lábios verdes marcam o enigma do coexistir Poetamente escrevo uma

HINO DO GENOCÍDIO

Eu não sou o tempo todo poesia Sou pólvora Minhas palavras implodem as mais diversas lógicas Não sou criada de ninguém Nem sou filha do desdém Sou ideias em chamas Mirando interrogações Até que nelas me corto E começo a me perguntar os porquês Não lido com mal entendidos E sim com o que foi dito Racismo, numa sociedade racista, não é o pior dos delitos. Em um país de cristãos, é digno de perdão e não de pena... Mas a pena máxima é dada diariamente aos mesmos corpos e em todas as esferas da sociedade Corpos-erês Com tiros no peito Com tiros nas costas Com acidentes simulados Essa nação, que mata crianças que coíbe o meu grito, Canta o hino do genocídio Camuflando com o som de   “Marielle vive” Juliana Sankofa 30/11/2019
Sou preta aqui ou lá No norte ou no sul No sudeste ou no nordeste Não tenho o privilégio de moldar minha imagem de acordo com minha conveniência Sou preta até quando estou em silêncio Sou preta Não moreninha Ou a menos branca da família Quando falo "preta" A palavra se camufla em minha pele E eu vou a guerra decretada na sutileza Dinamitei sentidos apenas com o olhar E que se joguem em seus princípios Nao estenderei as mãos calejadas Talvez sorrie ou chore Síndrome de estocolmo da pele que me silencia? Juliana Sankofa

O MEDO NÃO ME COLONIZA

Acham que eu não sinto medo, apenas porque eu sei o que é gestos trêmulos ou por ter me acostumado com a violência de tudo que nenhuma ameaça me parece incomum, Dizem que jamais chorei meus olhos firmes encontram o seu deserto não evidenciam o meu. Afirmam que eu não sei manifestar afeto... sentimentos de todas as ordens  germina diariamente no meu corpo Porém selecionam aqueles que os assustam e elevam como exemplo máximo do meu ser Não transformo pétalas em navalhas simplesmente armo-me do inesperado e vou sorrindo para o cotidiano campo de batalha o qual eu não me curvo nem para beber água. Não é novidade é pelo medo que se colonializa... Eu pus fogo no medo sorrir, enquanto os privilégios tremiam. Por isso dizem que eu sou a nêga que brinca com fogo! Juliana Sankofa Viçosa-MG 20/06/2019

PIRLIMPIMPIM

Se a boneca Emília fosse preta, não falaria. Nem teria sua rebeldia lida como algo genial. Se Emília fosse preta, Não seria criada por um homem branco Talvez tivesse a Narizinho como Dona Ou perderia os dentes por ser tão insolente... A primeira boneca a falar Precisou de uma mente brilhante Para fazê-la extraordinária e branca. Já no mundo onde bonecas não falam... Mulheres pretas emitem suas falas Nas ondas do silêncio que as calam, Por força ou por invisibilidade E tudo se oculta no pirlimpimpim do privilégio. Juliana Sankofa Viçosa- MG  15/06/2019

EU SOU A ESCURIDÃO QUE AMANHECE

Por dentro travo uma luta sem coletivo Por fora meu punho em riste sintoniza-se com vários punhos sem direito de fraquejar sem dor só luta. Mas há noites que nem a escuridão me reconhece Experiencio uma palidez seca que faz do meu berro grandioso deserto Na "escuridão" da minha escuridão mutilada eu sou minha própria cilada Choro e afogo-me Quando penso que já morri... Vejo um pássaro olhando para mim, sem parar o ritmo do seu andar. Eu o sigo meus pés se tornam ondas o vento bravo me ressuscita Solda-me meus pedaços Amanheço E a aminha escuridão é Outra. Juliana Sankofa 01/06/2019 Viçosa-MG

CAVALO DE TRÓIA

Quanto que custa a visibilidade? Jamais aceite o silêncio como cartão de visita Para se sentar ao lado de quem jamais soube o que é ser invisibilizado. Enquanto você se sente “inserido”, Sua imagem já não lhe pertence Racistas com álbuns repletas de   fotos ao lado de pessoas negras influentes Arrotando diversidade, mas quando o preto é anônimo louvam a subalternidade Nutrem a certeza de que visibilidade É filha da fama e do mérito. Preto é só o fundo do palco Dessa branquitude do espetáculo. É tanta ânsia de ser visto, Que deixamos de enxergar: Fama vinda de branco é chibata. É do invisível que eu resisto, Minha estratégia É não ser um cavalo de Tróia. Minha história É sem Helenas e   sem Penélope. Juliana Sankofa  26/05/2019  Viçosa- MG 

ESTÁNDAR

Soy mi propio estándar Aún soy la nueva definición   de la paz Esa que necesita de una guerra Contra los principios Contra las imágenes Que nos resumen En la inferioridad. Soy pájaro Que come, Degusta, Palabras vivas. La carroña dejo para ustedes Que la esconde por debajo de la alfombra De la historia oficial. Juliana Sankofa Viçosa-MG

DORORIDADE

Não sei o que lhe causa dor. Talvez, a fome dos outros, que sente só de ver ou o impacto de aviões em duas torres transformando a alma em fragmentos tóxicos de tristeza. Talvez, a dor seja mais potente do que sua ausência... Talvez seja difícil senti a dor de 101 tiros atravessando a juventude perfurando o balaio da felicidade ou de 80 tiros deixando uma criança orfã da alegria e uma viúva cujas lágrimas demorarão a secar. Talvez, a verdadeira sororidade seja pela dor embora não a sentimos da mesma forma. Imagine a dor de ter esteótipos pregados a pele ou ainda de ter que fingir não sentir dor... Essa dor que sempre esteve presente e , talvez, ela seja uma língua universal mas eu vejo este mundo como torre de Babel despencando. A dor nos afasta?  Juliana Sankofa 

COMPREENDA-ME INTEIRA

Sou mulher negra Não me parta em dois  Não me compreenda partida Olhando-me meia  oculta o meu inteiro é inteira que eu me realizo... Não me faça em pedaços para caber em seu "feminismo" Sim, seu "feminismo"! pois se fosse meu nem assim se chamaria. Meu sexo é revestido de pele, não faça do meu XX  uma dupla incógnita. O patriarcado branco casa direitinho com o feminismo branco? Desculpe-me, deu branco! Ninguém solta a mãos de ninguém? Mas não entendo o porquê das mãos brancas serem tão escorregadias. Juliana Sankofa 16/03/2019 Viçosa- MG 

POESIA RECATADA

Minha língua-lâmina penetra sem pudor. Para alguns, Eu sou o prazer Juliana Sankofa 31/01/2019 Viçosa- MG

GRANDIOSO SACI

                    In memória de Carlos Saci. Antes da notícia: O sol estava radiante Meus pensamentos acompanhavam os cantos  distintos de passáros de várias espécies Eu projetava sonhos no teto como quem escrevia nas páginas da vida que ainda estão por vir. Depois da notícia Lembrei das últimas palavras que trocamos, do riso e da conversa sobre a vida Pensei em um outro Carlos que era Gauche e não Saci e que nunca abriu portas. O sol parou de sorrir Compadecido, talvez. De ver como a saudade pode doer Mesmo que a eternidade seja um segundo que nenhum relógio pode nos indicar. Sei que quando eu passar Naquele mesmo caminho Irei gritar no meu interior: - Oi!!!! Saci!!! Juliana Sankofa 02/ Janeiro/ 2019 Viçosa-MG