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HINO DO GENOCÍDIO



Eu não sou o tempo todo poesia
Sou pólvora
Minhas palavras implodem as mais diversas lógicas
Não sou criada de ninguém
Nem sou filha do desdém
Sou ideias em chamas
Mirando interrogações
Até que nelas me corto
E começo a me perguntar os porquês
Não lido com mal entendidos
E sim com o que foi dito
Racismo, numa sociedade racista, não é o pior dos delitos.
Em um país de cristãos, é digno de perdão e não de pena...
Mas a pena máxima é dada diariamente
aos mesmos corpos e em todas as esferas da sociedade

Corpos-erês
Com tiros no peito
Com tiros nas costas
Com acidentes simulados
Essa nação, que mata crianças
que coíbe o meu grito,
Canta o hino do genocídio
Camuflando com o som de  “Marielle vive”

Juliana Sankofa
30/11/2019



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