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Os escombros do engenho
Se perderam no tempo,
Mas as ideias não.
O racismo transforma um colar de pedra vermelha
Em coleira ou forca
Além de transformar o afeto em cilada.

É importante não se esquecer
Que no incrível mundo dos brancos
Preto bom é preto calado
Submisso e que não questiona
Da luta preta não há claros apoiadores
Mente turva e colonial
Doença de época
Daqueles que dizem realizar uma luta social
No lado esquerdo da sociedade
Junto a nós, pretos, que nunca fomos aceitos em nenhum lado.
Sinta o forte odor desse colonialismo apodrecido
Que os brancos fingem não sentir
E que a todo momento dizem ser coisa da nossa cabeça.
Antes que você se torne uma esfinge de nariz quebrado,
Pressinta e evite a claridade
Que desqualifica a experiência preta.
Sorria!
É preciso sorrir
Deixe bem escurecido
Que seu sorriso não lhe coloca a venda.
Ah, escreva!
Escreva poemas-expurgos
Para livrar a mente
das violências neocoloniais.

Juliana Sankofa

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AUTOSSABOTAGEM

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