Às vezes, sinto que perdi a poesia
Blasfemo minha própria existência
enquanto encaro a pedagógica tirania
Meu corpo não cabe nos binarismos ocidentais
Sou má, apesar de boa
Escrevo em cada entrelinha
um abismo de dizeres
Minhas palavras carregam certos prazeres
ao mesmo tempo que erguem a episteme da minha vingança
Longe de mim qualquer discurso de esperança
de restituir o meu status de sujeito
Cansei de ser objeto limitado em artigos
de quem não se escreveu e nem se leu.

Não venha Deus,
Solicitar de mim mais uma reza
em que eu precise estar sempre curvada
A espiritualidade imposta é tão “acolhedora” quanto uma senzala
Minha fé não cabe em nenhum contrato de subalternidade
Meu saber não profere pactos de colonialidade
Meu ser é pétala que rasga quem me arranca
violentamente de mim mesma
Meu poder é o anti-domínio
enquanto suspiro nos ouvidos
a culpa camuflada nas vaidades.


Juliana Sankofa

13 de junho de 2023 

Imagem: pinterest https://pin.it/29axXR1





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