Abra o caminho

em silêncio

não fale por mim,
não diga sobre mim
não me estude
se não for capaz de colocar
em pauta os seus privilégios
com a mesma força que quer falar
sobre quem não é.

A intelectualidade é vasta,
Pode-se pensar sobre o mundo,
sobre tudo e sobre todos.
Meu corpo não deslegitima o seu saber,
porém, por que o seu deslegitima o meu?

Só queria dizer que eu estou cansada
de todos os seus pactos,
dos seus falsos discursos
da sua pouca prática por mudança social
É cômodo viver nesse caos,
em que sua voz é escutada
enquanto milhares iguais às minhas são silenciadas.

Eu sei quem é você entre os iguais,
Se não dói na sua pele, nem se manifesta
Está escrito na sua testa:
que me prefere objeto
ao invés de sujeito
Não importa como me chama:
querida, amiga ou flor
Eu sinto horror
desse corpo que não se olha,
por medo de ver os próprios traços,
morais e físicos
que oficializou o genocídio,
o epistemicídio
e o mentecídio
de pessoas como eu

Juliana Sankofa



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