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 Não estou a serviço,

nem nasci a passeio.
Vivo
carrego no peito tantos anseios
e nenhum mapa que me leve
para um território em que a paz
seja da minha cor.

Não estou a serviço,
nem nasci a passeio
no meu corpo é o meu primeiro paradeiro
Não me machuque,
Não me subjugue,
Não me domestique.

Não me escravize!
Quando os olhos veem,
chama-me “amiga”
No entanto,
no privado das relações
honra o privilégio da alva pele
que eu chego a pensar
que toda sinhá é marxista

Não estou a serviço,
nem a passeio
escrevo metáforas
enquanto silenciam-me
para que eu não diga,
na minha perspectiva,
uma verdade
mais coesa que a sua.

Não estou a serviço,
nem a passeio
Sorrio,
com o abismo na boca
em forma de diastema.

Juliana Sankofa



Link da imagem:https://pin.it/20E4gwe (pinterest)

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