Noturna,

Estou em casa.
Em todos os lugares,
o opressor dorme
embalado pela própria ilusão de bondade.
Amanhã, quando bater a porta dos meus olhos a claridade
de mais um dia
Falarei do óbvio
e quebrarei as lentes do Panóptico
Abraçarei quem eu amo
Ligarei para minhas mães
a fim de ser embalada pelas vozes que me cicatrizam
todas as feridas das batalhas
da arena discursiva do pensar.
Prometo a mim,
Que eu não ficarei sem ar,
vou me esperançar
enquanto ainda escrevo
Meu ser sangra pelo verso,
minhas grandes ondas
estão no avesso do que é visível.

Deus me livre
dessa preta arte do sensível,
abolindo minha fé
de que palavras bonitas
mudam almas horrendas
Ó senhor, meu corpo não é sua oferenda
Não tenho nada a oferecer
nem mesmo esse poema
mas lhe peço:
apague as estrelas,
apague todas as velas,
apague todo racista
que tem medo de cara preta
Amém.

Juliana Sankofa


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