POEMA DE MEIO-DIA NUMA NOITE ESCURA



Fui a primeira
Nem por isso sou a melhor
e nem a pior do que aquelas que não foram
Fui a primeira da minha família a ser professora
Fui a primeira da minha família a ser chamada mestre
Fui a primeira a ser chamada escritora
Fui a primeira a ser doutoranda
Não fui a primeira a superar os meus traumas
Nem a primeira a procurar tratá-los
Mas eu fui a primeira em tantas coisas
que sai puxando quem não pode ser a primeira.

Fui a primeira
Por isso, ser humano algum
tem o direito de me fazer sentir
como se eu fosse a última
a última a ser respeitada
a última a ser considerada
a última a ser amada
a última a ser ouvida
Sempre fui a última a chorar
Hoje, luto para ser a primeira
Quem sabe assim reconheçam
a minha estranha humanidade.

Juliana Sankofa




fonte da imagem: @ufabizphoto

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