Se eu morrer hoje,
diga que eu não cedi.
A cada palavra de recusa,
mais violentas eram as tentativas
de me fazer crer que o mundo dos brancos
era natural.
Eu não cedi.
Chorei.
E, nas lágrimas,
pedaços da minha alma
liquefaziam-se,
como se, nos olhos,
coubesse um cemitério
de águas salgadas
onde ninguém ousaria atravessar.
Eu não cedi.
Tremores anunciavam,
a cada crise,
o fim do mundo.
E, quando eu via que era ilusão,
desejava-a como verdade.
Se eu morrer hoje,
diga que me vinguei
e não deixei testemunhas.
Meu corpo epitáfio
daqueles que não cederam
dançam ao som do grito de guerra
dos Aimorés
e a luz do fogo
dos Mandikos.
Juliana Sankofa
Eles tocam na nossa voz e queimam nossos escritos enquanto se dizem revolucionários Eles tocam na nossa voz, queimam nossos escritos e querem que todos nós finjamos que somos todos iguais. Eles tocam na nossa voz e queimam nossos escritos Ah, cada palavra que eu digo parece uma filha parida sem anestesia. Eles tocam na nossa voz e queimam nossos escritos mas o que queriam mesmo é que sorríssemos diante da opressão e nisso atestam nosso valor para andar no mesmo espaço e ser "aceito" como igual Eles tocam na nossa voz e queima nossos escritos. E na voz tocada, o sufoco, uma exigência a mais de força no dizer. Eles tocam na nossa voz e queimam nossos escritos... mas nossas palavras não dependem do papel, dependem do corpo. Eles veem os nossos corpos e se queimam por dentro diante da nossa existencial imposição. Juliana Sankofa Fonte da imagem: Canva IA.
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