Se eu morrer hoje,
diga que eu não cedi.
A cada palavra de recusa,
mais violentas eram as tentativas
de me fazer crer que o mundo dos brancos
era natural.
Eu não cedi.
Chorei.
E, nas lágrimas,
pedaços da minha alma
liquefaziam-se,
como se, nos olhos,
coubesse um cemitério
de águas salgadas
onde ninguém ousaria atravessar.
Eu não cedi.
Tremores anunciavam,
a cada crise,
o fim do mundo.
E, quando eu via que era ilusão,
desejava-a como verdade.
Se eu morrer hoje,
diga que me vinguei
e não deixei testemunhas.
Meu corpo epitáfio
daqueles que não cederam
dançam ao som do grito de guerra
dos Aimorés
e a luz do fogo
dos Mandikos.
Juliana Sankofa
Desseco a língua que eu falo. Parasitária em meu corpo desde os meus primeiros verbos. Aqui, foi tecnologia de guerra, imposta como oficial repleta de sentidos que não me humanizam: "Vamos deixar claro que a coisa está preta"; " Não vou negar o que eu fiz". Desseco com raiva, sem entender porque essa língua não sangra. Meu corpo-rebeldia dislexia a realidade. A minha língua materna nunca foi mãe nem gentil só pátria pária. Juliana Sankofa

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