Eles tocam na nossa voz e queimam nossos escritos enquanto se dizem revolucionários Eles tocam na nossa voz, queimam nossos escritos e querem que todos nós finjamos que somos todos iguais. Eles tocam na nossa voz e queimam nossos escritos Ah, cada palavra que eu digo parece uma filha parida sem anestesia. Eles tocam na nossa voz e queimam nossos escritos mas o que queriam mesmo é que sorríssemos diante da opressão e nisso atestam nosso valor para andar no mesmo espaço e ser "aceito" como igual Eles tocam na nossa voz e queima nossos escritos. E na voz tocada, o sufoco, uma exigência a mais de força no dizer. Eles tocam na nossa voz e queimam nossos escritos... mas nossas palavras não dependem do papel, dependem do corpo. Eles veem os nossos corpos e se queimam por dentro diante da nossa existencial imposição. Juliana Sankofa Fonte da imagem: Canva IA.
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Desseco a língua que eu falo. Parasitária em meu corpo desde os meus primeiros verbos. Aqui, foi tecnologia de guerra, imposta como oficial repleta de sentidos que não me humanizam: "Vamos deixar claro que a coisa está preta"; " Não vou negar o que eu fiz". Desseco com raiva, sem entender porque essa língua não sangra. Meu corpo-rebeldia dislexia a realidade. A minha língua materna nunca foi mãe nem gentil só pátria pária. Juliana Sankofa
Se eu morrer hoje, diga que eu não cedi. A cada palavra de recusa, mais violentas eram as tentativas de me fazer crer que o mundo dos brancos era natural. Eu não cedi. Chorei. E, nas lágrimas, pedaços da minha alma liquefaziam-se, como se, nos olhos, coubesse um cemitério de águas salgadas onde ninguém ousaria atravessar. Eu não cedi. Tremores anunciavam, a cada crise, o fim do mundo. E, quando eu via que era ilusão, desejava-a como verdade. Se eu morrer hoje, diga que me vinguei e não deixei testemunhas. Meu corpo epitáfio daqueles que não cederam dançam ao som do grito de guerra dos Aimorés e a luz do fogo dos Mandikos. Juliana Sankofa

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