Preciso escrever com afetos,
mas, com as mesmas mãos que escrevo,
puxo o pino,
levo a pane,
explodo imagens,
discursos
e ideias
criadas sobre mim
e à custa do meu silêncio.
Preciso dizer que sei tocar o sensível,
sei beijar gostoso,
gozo e sinto
tudo ao meu redor.
Não sou carne,
não sou peça,
sou tripla, sangue e sinapses.
Ora eu sou o próprio enjoo,
vivo o silêncio
de um marulhar indescritível.
Ora eu sou o mofo irreversível
da história da Nação:
devoro o arquivo nacional
e defeco agrotóxico
e exploração.
Eu preciso escrever
com as minhas próprias mãos,
os meus próprios olhos
e as minhas próprias lágrimas.
Guardem as borrachas brancas,
o corretivo
e o “delete”.
Escrevo nesta língua,
porque me foram roubadas outras
e me foi imposta esta.
Juliana Sankofa
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