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Mostrando postagens de junho, 2025
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Se eu morrer hoje, diga que eu não cedi. A cada palavra de recusa, mais violentas eram as tentativas de me fazer crer que o mundo dos brancos era natural. Eu não cedi. Chorei. E, nas lágrimas, pedaços da minha alma liquefaziam-se, como se, nos olhos, coubesse um cemitério de águas salgadas onde ninguém ousaria atravessar. Eu não cedi. Tremores anunciavam, a cada crise, o fim do mundo. E, quando eu via que era ilusão, desejava-a como verdade. Se eu morrer hoje, diga que me vinguei e não deixei testemunhas. Meu corpo epitáfio daqueles que não cederam dançam ao som do grito de guerra dos Aimorés e a luz do fogo dos Mandikos. Juliana Sankofa
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Desseco a língua que eu falo. Parasitária em meu corpo desde os meus primeiros verbos. Aqui, foi tecnologia de guerra, imposta como oficial repleta de sentidos que não me humanizam: "Vamos deixar claro que a coisa está preta"; " Não vou negar o que eu fiz". Desseco com raiva, sem entender porque essa língua não sangra. Meu corpo-rebeldia dislexia a realidade. A minha língua materna nunca foi mãe nem gentil só pátria pária. Juliana Sankofa