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Mostrando postagens de 2023
Dinamitações diárias,a guerra antes de ser oficializada é silenciosa é amarga que chega a ser confundida com a fome. Corpos-alertas sem chão, sem filhos, sem mães sem Deus veem cair do céu estrelas quebradas de Belém, fardadas. Oriente partido sem profecia de nenhum horizonte. Ó Deus de Israel, não os perdoe, eles sabem o que fazem O senhor escuta as lágrimas entre os escombros? Não siga a politicagem dos homens que apalpam os ombros pensando em poder. Na ausência de misericórdia, Territórios-almas violados, O sujeito levado ao seu extremo se apoiam na loucura ou na sabedoria que a dor causa e se tornam também bombas. Juliana Sankofa Link da imagem:  https://pin.it/41AlhGa  (fonte Pinterest)
  Abra o caminho em silêncio não fale por mim, não diga sobre mim não me estude se não for capaz de colocar em pauta os seus privilégios com a mesma força que quer falar sobre quem não é. A intelectualidade é vasta, Pode-se pensar sobre o mundo, sobre tudo e sobre todos. Meu corpo não deslegitima o seu saber, porém, por que o seu deslegitima o meu? Só queria dizer que eu estou cansada de todos os seus pactos, dos seus falsos discursos da sua pouca prática por mudança social É cômodo viver nesse caos, em que sua voz é escutada enquanto milhares iguais às minhas são silenciadas. Eu sei quem é você entre os iguais, Se não dói na sua pele, nem se manifesta Está escrito na sua testa: que me prefere objeto ao invés de sujeito Não importa como me chama: querida, amiga ou flor Eu sinto horror desse corpo que não se olha, por medo de ver os próprios traços, morais e físicos que oficializou o genocídio, o epistemicídio e o mentecídio de pessoas como eu Juliana Sankofa Link da imagem/fonte: pinte
Sorriem, eu sorrio de volta. Cativam-me em prol de dominar Eu cativo de volta afetos, No susto percebem, que eu sou a ferrugem ácida das correntes de quem se camufla na sombra de minha identidade. Deixo que se aproximem, meu corpo-medusa quer brincar de escravo de Jó com suas entranhas de pedra. Juliana Sankofa Link da imagem:https://pin.it/57ek8rx (pinterest)  
  Noturna, Estou em casa. Em todos os lugares, o opressor dorme embalado pela própria ilusão de bondade. Amanhã, quando bater a porta dos meus olhos a claridade de mais um dia Falarei do óbvio e quebrarei as lentes do Panóptico Abraçarei quem eu amo Ligarei para minhas mães a fim de ser embalada pelas vozes que me cicatrizam todas as feridas das batalhas da arena discursiva do pensar. Prometo a mim, Que eu não ficarei sem ar, vou me esperançar enquanto ainda escrevo Meu ser sangra pelo verso, minhas grandes ondas estão no avesso do que é visível. Deus me livre dessa preta arte do sensível, abolindo minha fé de que palavras bonitas mudam almas horrendas Ó senhor, meu corpo não é sua oferenda Não tenho nada a oferecer nem mesmo esse poema mas lhe peço: apague as estrelas, apague todas as velas, apague todo racista que tem medo de cara preta Amém. Juliana Sankofa Link: https://pin.it/7xw4hHk
 
  Não estou a serviço, nem nasci a passeio. Vivo carrego no peito tantos anseios e nenhum mapa que me leve para um território em que a paz seja da minha cor. Não estou a serviço, nem nasci a passeio no meu corpo é o meu primeiro paradeiro Não me machuque, Não me subjugue, Não me domestique. Não me escravize! Quando os olhos veem, chama-me “amiga” No entanto, no privado das relações honra o privilégio da alva pele que eu chego a pensar que toda sinhá é marxista Não estou a serviço, nem a passeio escrevo metáforas enquanto silenciam-me para que eu não diga, na minha perspectiva, uma verdade mais coesa que a sua. Não estou a serviço, nem a passeio Sorrio, com o abismo na boca em forma de diastema. Juliana Sankofa Link da imagem:https://pin.it/20E4gwe (pinterest)

POEMA DE MEIO-DIA NUMA NOITE ESCURA

Fui a primeira Nem por isso sou a melhor e nem a pior do que aquelas que não foram Fui a primeira da minha família a ser professora Fui a primeira da minha família a ser chamada mestre Fui a primeira a ser chamada escritora Fui a primeira a ser doutoranda Não fui a primeira a superar os meus traumas Nem a primeira a procurar tratá-los Mas eu fui a primeira em tantas coisas que sai puxando quem não pode ser a primeira. Fui a primeira Por isso, ser humano algum tem o direito de me fazer sentir como se eu fosse a última a última a ser respeitada a última a ser considerada a última a ser amada a última a ser ouvida Sempre fui a última a chorar Hoje, luto para ser a primeira Quem sabe assim reconheçam a minha estranha humanidade. Juliana Sankofa fonte da imagem: @ufabizphoto
                                          Dedico a Simone Maria de Moraes, um dos amores de minha vida.  Não importa quantos anos vivamos, Somos os únicos habitantes do nosso mundo-corpo Abra as frestas para o sentir,  para revolta e para o encontro de mundos, sem que seja um apocalipse.  Não permita que as rachaduras na parede de sua infância, Sejam as de sua alma Lembre-se que o amor é nossa política mais recente de autorreparação  Pretinha, seus tons de luas  Às vezes, aumentam minhas marés Sem fé no ontem, no hoje e no depois, eu vivo navegando-me  em prol de me encontrar  em uma ilha sem Sexta-feira.  Chore Chore Não construa arca nenhuma,  chore deixe afundar o que é preciso. Na madrugada,  eu lhe pressinto  de cá, do meu mundo imergido de tantas questões e muitos dizeres. Quebre as âncoras dos olhos, eu lhe vejo Juliana Sankofa Imagem: https://pin.it/3jF07c7 (pintereste)
  Dedico a Bruna Martins É preciso colo para desanuviar o peito... A vida é cheia de demandas, exigindo projetos para o futuro, sem tempo para lidar com as dores do presente que nunca viram passado A sobrevivência é a escrava do capitalismo Sem dinheiro, sem carisma para alguns o mundo é um lugar tão lindo Para nós, um limbo de gemidos abafados e poucos abraços Se nós pararmos quem irá ser o nosso refúgio? sem ou com pouco privilégio quem me dará banho e o que de comer quando não tivermos mais força? O mundo parece brincar comigo de forca todo dia o sol nasce eu mandigo esperanças em minha alma e retiro a determinação da fossa. Ah, meu desprezo só aumenta por essa gente que transforma minha dor em bossa nova. Juliana Sankofa fonte da imagem: pinterest (https://pin.it/7N0PfIB)
                Dedico a Catarina. Indomável, sensível ao sopro do vento, ao som das águas, aos detalhes do céu, ao outro que se aproxima. Sorrir com os olhos, a voz de timbre gentil não muda o tom quando está brava E sua braveza se desperta diante da injustiça, do bizarro e do contestável Branquinha é uma ovelha negra na academia. Minha semelhante Que não oculta o semblante diante da ignorância do superficial Eu lhe convido para a dança em que meus pés levantam poeiras coloniais escondidas debaixo dos carpetes e eu entoo um canto de resistência que lhe abraça nas suas lutas. No caos deste nítido mundo, eu sou a escura poesia. Juliana Sankofa (4 jun 2023) Fonte da imagem: pinterest
  A branquitude ama o Cânone porque Ele não se parece comigo O Cânone não tem pele, não tem cabelo não tem nariz e finge ser "todo mundo". A branquitude ama o Cânone porque Ele não se parece comigo Ele urina de pé ignorando a realidade não por talento e sim pelo medo de ver a escuridão nos cantos do Brasil A branquitude ama o Cânone porque Ele não se parece comigo O Cânone já levantou a chibata O Cânone é puro Engenho O Cânone não entendeu o Machado Afiado em Lima, escondeu o pioneirismo de Maria O Cânone criou sombras, direcionou o clarão e definiu entre si quem tinha o mesmo sangue semiótico para se sentar a mesa nos chás nas terças-feiras. Eu sinto raiva do Cânone e Ele sente raiva de mim. O Cânone não é Universal é imposto. Juliana Sankofa Imagem: escritora Carolina Maria de Jesus Fonte: pinterest
  Afasto-me de espaços onde meu corpo é saqueado, mais do que escutado. Não me encaixo desabo-me em escombros toda vez que sou silenciada, desvalorizada. Estou na fronteira, longe dos domínios esbranquiçados do poder erguendo uma bandeira única: a minha voz que é também subjetiva. Eu nunca fui escrava Juliana Sankofa                                                 Fonte da imagem: Pinterest Artista:Nkem Odeh-ifeyinwa
Se me demonizam, Eu, a Diaba, gargalho diante do caos Brinco de escurecer a nitidez do absurdo de quem diz que ensina, quando machuca, desorientando-me para que eu não alcance os seus privilégios: de não serem a cor do pecado, de não ser o marginalizado de não ter seus filhos arrancados do mundo, sem tempo para se despedir. Eu, a Diaba, finjo e finjo e mesmo sendo poeta a minha dor não vira poesia a ser lida nas universidades Ah, o meu corpo sobreviveu ao “descobrimento” e vem suportando o descumprimento de quem jurou ensinar, mas quer escravizar. Eu, a Diaba, leio reescrevo padeço Quem dera eu tivesse a força de retroceder a rotação da terra E não estar aqui neste lugar que não é meu, Mas que me quer sua não como pensante-sujeito, E sim como objeto- decrépito que sustenta lavouras inteiras de egos de algodão. Juliana Sankofa fonte: acervo pessoal (2023)

SONETO DA PROCURA

  Num mundo vasto, onde o saber se encontra, Uma doutoranda, alma audaz e forte, De pele escura, brilho em cada corte, Busca mentora sábia e não tisnada.   À procura de acolhida sincera, Na academia, a estrada é desafiante, Encontra quem, do ego, é dominante, Em um dilema que ora desespera.   Ó, mestra! Não se afaste do diálogo, Pois nele há a chave para a compreensão, Da história e da dor, cruel escárnio.   Rompendo barreiras do preconceito, A verdadeira luz do entendimento, Se ergue ao respeito, laço perfeito.   E, deformando toda estrutura, a do poema e a da sociedade...   eu abolo qualquer moderna escravatura no seio da formação intelectual do Brasil.   Juliana Sankofa Fonte da imagem:https://www.fotor.com/images/create
Às vezes, sinto que perdi a poesia Blasfemo minha própria existência enquanto encaro a pedagógica tirania Meu corpo não cabe nos binarismos ocidentais Sou má, apesar de boa Escrevo em cada entrelinha um abismo de dizeres Minhas palavras carregam certos prazeres ao mesmo tempo que erguem a episteme da minha vingança Longe de mim qualquer discurso de esperança de restituir o meu status de sujeito Cansei de ser objeto limitado em artigos de quem não se escreveu e nem se leu. Não venha Deus, Solicitar de mim mais uma reza em que eu precise estar sempre curvada A espiritualidade imposta é tão “acolhedora” quanto uma senzala Minha fé não cabe em nenhum contrato de subalternidade Meu saber não profere pactos de colonialidade Meu ser é pétala que rasga quem me arranca violentamente de mim mesma Meu poder é o anti-domínio enquanto suspiro nos ouvidos a culpa camuflada nas vaidades. Juliana Sankofa 13 de junho de 2023  Imagem: pinterest https://pin.it/29axXR1

POEMA NOTURNO 08/03/22

No meu corpo há uma profunda e volumosa rachadura que se soma a outras tantas. Sem ter fronteira, meu corpo mapea-se com indizíveis. Performo o meu feminino nada Universal Assim, rego as vozes mutiladas pelo descaso insonoro de outras que compartilha vestidos-privilégios apenas entre as suas iguais. No meu corpo, das rachaduras saem versos ora ríspidos, ora doces de quem olha o mundo pelas frestas das ilusões impostas. É desse corpo de chão batido que reinicio cotidianamente os reparos do caos escondido nas frestas das ideias diluídas no amargo silêncio de quem não escuta, mas finge. Inevitavelmente eu sou uma esfinge de traços quebrados que ainda devora, com riso na boca, toda "verdade" imposta no intuito de manter o enigma mais escuro do que claro. Juliana Sankofa

SILÊNCIO

Quando sou autorizada, Sobrepõe em mim as sete camadas do meu silêncio Como criança, Escondo-me no meu escuro, Seguro a respiração no anseio de não ser descoberta em meu esconderijo.   No meu silêncio, eu liberto meus pensamentos finjo que sou escutada Lá, nem preciso me ocultar de mim mesma para caber em expectativas.   Se tropeço, não sou lida como anjo caído. Simplesmente, danço na chuva dos meus olhos abraço o que ninguém abraça Escrevo. Juliana Sankofa   Imagem: pinterest Author/Illustrator | Virginia/NYC link: https://pin.it/3LsOG27

AQUILOMBAR

Aquilombar não é se esconder é enfrentar juntos a cara pálida do poder Também é dançar para afastar a dor e honrar quem já se foi É forjar laços mais fortes que aço incorruptíveis pelos egoísmos ocidentais É escuta É falas armas que se usam sem misericórdias Aquilombar é despir de tudo que nos finda Recusar nutrir a inveja branca, é amparar o grito no mesmo instante que ele é dado Segurar as mãos até que a dor passe e o sorriso raie. É dialogar principalmente entre nós, para nós e sobre nós. Desfazer-nos dos nós que atam as esperanças. Aquilombar é erguer o punho, mas também abaixá-lo no abraço-Forte. Juliana Sankofa  * Escrito em 22/02/2021