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Mostrando postagens de janeiro, 2018

A ANOS-LUZ PERTO DE VOCÊ

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As vezes não tem como impedir que a vida se torne um labirinto Sei como dói desaprender a distinguir o dia da noite, Sei quanto o silêncio é tão profundo que o coração bate aos gritos Sei quando os sorrisos são sem gosto algum de felicidade... Sei desta sensação do mundo ter parado de girar E você tentar destravá-lo com as próprias mãos Mas já está cansada Mesmo antes de conseguir completar uma volta. Não vou lhe impedir de destruir todo este labirinto, De apagar a noite e o dia E silenciar o coração. Também não irei lhe impedir de descansar a mão E decidi não completar a volta. Só irei lhe dizer em código morse Que “dexistir” provocará mais dor Digo daqui do seu lado, por mais que pareça que estou a  anos-luz de você Enquanto a minha mão lhe toca o ombro E os meus lábios tentam seguir  os fios de Ariadne até os seus ouvidos só para lhe dizer: Eu estou aqui.  Juliana Costa JF/MG 30/01/2018 

A MADRUGADA É MAIS NOITE OU MAIS DIA?

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Quem é negro Já nasce com a noite no peito Cresce com os olhares brancos Marcando a pele. Já na escola aprende Que não pode ser a noiva ou noivo da quadrilha Nem príncipe ou princesa. Mas quando é carnaval na escola... Logo é visto E sempre estimulado a sambar Mesmo que não saiba. Quem é negro Consegue se ver no escuro Não tem dúvidas Mas e quem não é? Se for branco tem a certeza Que o lápis cor de pele É apenas o rosa. E quem não é? Ou quem se encaixa No espaço cinza do binarismo? A dúvida surge como dor A sociedade branca quando convém Inferioriza a sua cor, Mas quando não convém Vem com diminutivos de seletividade: “Você não é muito pretinho, Mas também não é branquinho” A pele como madrugada O racismo sorrir para alguns E agredi os outros. Se a madrugada se enforca A corda pode ser branca como preta. Amarelaram tanto a nossa história Que se autoidentificar e ser aceito Também consiste em um privilégio. ...

A PIPA E O VELHO MENINO

Livre em um céu toda dela. Se escondendo atrás das nuvens Nunca imaginou chegar tão longe Mesmo com os seus pés nos chão. O menino que o tempo modificou a face Mas que não mudou o brilho do olhar A pipa era a mesma  ... tipo a alma saindo do corpo retornando  a cada balançar da linha. No céu todo seu  A mão enrugada puxando e dando linha para a vida. Juliana Costa 27/01/2018 JF/MG
Meu quilombo é resistência e não laboratório da branquitude. Juliana Costa 24/01/2018

IDEOLOGIA

Dedicado a Viviani, uma flor que conheci um dia. Eu ouço tiros na escuridão da minha pele Tiros ideológicos que buscam , simplesmente, inferiorizar Ergo-me a cada instante buscando-me cicatrizar Não sou a prova de bala, porém eu sei lutar. Não sou o que dizem E nem meus passos condizem: Com seus gratuitos desafetos E nem imorais vetos Eu sou negra, esta é minha regra, minha história e sagrada identidade, É isto que sinto e reconheço, minha fé ou verdade Juliana Costa Viçosa-MG  20/05/2015

CANTIGA DE DESNINAR

Boi, boi, boi Boi da cara preta Pega estes branquinhos que tem medo de gente preta. Juliana Costa 23/01/2018

PEITO ABERTO

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             Dedico a K.G. B este poema com fatos históricos Não me peça o peito aberto Para suas calibradas ideologias Que me exigem o último suspiro e provoca-me convulsões de silêncio. Não me oculto da claridade Sempre me predispus a dá abraços em quem me acha “gente boa” apenas se eu estiver no laço. Submissão Subalternização Aceitação Estas palavras você rega todas as manhãs? Eu não. Saio raspando da mente Toda a verdade universal Pintadas nos muros sociais com tinta branca. Meu peito é caverna sem abracadabra Não é túmulo da minha humanidade É a lareira que me esquenta diante das suas frias incompreensões O meu peito constantemente se fecha para manutenção E quando se abre ... Recusa qualquer invasão E se o colonizador chama na porta... Não sobra nem poesia. Juliana Costa 21/01/2018 . Imagem de  Scott Rohlfs art

COISAS QUE MATAM

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Eu morro todos os dias No silêncio que me exigem. Eu sinto a corda no pescoço Quanto o meu dizer é estigmatizado “violenta” “agressiva” Por que não uso metáforas de borboletinhas, Flores ou pedras no meio do caminho. Não sei praticar o ritual cotidiano Sorrisos Cortesias Enquanto a dor da alma faz com que  muitos supliquem anestesia. Eu morro Por que sou do morro? Meus pés tingidos de morro Desfilam os corredores da Universidade. O seu incômodo é lâmina fina que sutilmente me mata... morro golpeada? Não, vivo. Juliana Costa JF/MG 18/01/2018

NEGRA FUJONA

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Discurso é poder. Irei falar de racismo sim apenas para me defender do seu cinismo que oculta os corpos negros da nossa história Irei evidenciar o que julga ser invisível: esta brancura apática diante de nós Saibam que para nós  são  vocês que são os Outros. A minha palavra vai dissecar pedacinho por pedacinho deste corpo que se diz universal mas que nunca se deparou com a violência policial. Não me leva a mal, não sinta medo O demônio anda de caravelas desde que Brasil era Santa Cruz. A Santa Cruz que os negros carregam  até hoje. Não venha com esta história de que a liberdade foi trocada por espelhos  europeus. Pois desde que eu era pequenina minha mãe já me ensinava: Se não é seu, não roubeColonizador é mesmo um bicho sem mãe, mas tinha  pátria, tinha fé. Em nome de tudo que era para ele mais sagrado através de sucessivos estupros machucou até o ventre desta terra. Sei que poetas como eu os críticos querem colocar no tronco chibat...

A IMAGEM E SEMELHANÇA DO COLONIZADOR

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Negro pare de ser o álibi perfeito deste racismo a queima roupa. O branco tem mania de autorizar, de  aprovar ou reprovar sentem no direito de validar. Se possível a cada segundo sua liberdade autoproclamar... Entretanto, tudo que é preto deturpam, fazem sua imagem e semelhança Não escapa Jesus e nem Iemanjá. Só é santo Se for branco. Pregam Deus a imagem do colonizadores Quem não obedecer vai ir pro tronco banhado a óleo santo ao som das rezas e ladainhas " Deus é amor"mas... Não dá  para confiar nesta gente que faz das costas pretas  palanques. É a mesma que tampa a nossa boca, Rasga nossas ideias E no fim o que você deseja É ser aceito por quem não de aceita É participar dessa seita de privilégios Escolhendo ser escravo. “Isto é democracia” Nisto você acredita? Só me resta orar para que este poema queime no fogo do inferno das coisas não brancas Juliana Costa JF/MF 11/01/2018

ANSIEDADE

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A vida caminha em câmera lenta, quando meus pensamentos estão em velocidade máxima os pesadelos são antecipados das noites que ainda irei dormir. O coração acelera as batidas sem paciência não encontra a respiração regular Lágrimas? Um grito silencioso? Um desejo enorme de se desmontar E não montar mais Quem foi que nos deixou assim? A ansiedade vem como tempestade E depois passa e só quem a sente sabe que ela passou. Estas lágrimas são premonitivas ou são ilusão? Juliana Costa JF/MG  08/01/2018 

MULHERES, MAS...

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“Somos todas irmãs” Assim dizem as sinhás Enquanto balançam o berço onde o racismo berra. Cheias de sorrisos, cordiais. Querem que as consideremos nossas iguais E para isto usam todo artifício Oferecem flores artificias, Palavras vazias, e lágrimas de vergonha por serem brancas... Colonizam com correntes invisíveis Colocam-nos em navios negreiros os quais você acredita serem  arcas de Noé. Juliana Costa 06/01/2018 

VIDA COM OU SEM NOCAUTE

Não é pecado algum Segurar os punhos e  descansar. A vida para uns é saco de areia Para outros  uma poltrona onde se ler. E no fim o saco se arrebenta, a poltrona se desgasta e ninguém viu  você nocautear ou  descansar. Juliana Costa 05/11/2018  JF/MG