Se me demonizam,
Eu, a Diaba, gargalho diante do caos
Brinco de escurecer a nitidez do absurdo
de quem diz que ensina, quando machuca,
desorientando-me para que eu não alcance
os seus privilégios:
de não serem a cor do pecado,
de não ser o marginalizado
de não ter seus filhos arrancados do mundo,
sem tempo para se despedir.
Eu, a Diaba, finjo e finjo
e mesmo sendo poeta
a minha dor não vira poesia
a ser lida nas universidades
Ah, o meu corpo sobreviveu ao “descobrimento”
e vem suportando o descumprimento
de quem jurou ensinar, mas quer escravizar.
Eu, a Diaba, leio
reescrevo
padeço
Quem dera eu tivesse a força de retroceder a rotação da terra
E não estar aqui neste lugar que não é meu,
Mas que me quer sua
não como pensante-sujeito,
E sim como objeto- decrépito
que sustenta lavouras inteiras de egos de algodão.
Juliana Sankofa
É abafar o grito e forçar um sorriso receptivo enquanto professa que somos todos iguais. É amarrar os próprios sonhos em uma âncora e lançá-los em profundo buraco. É ser visionário da desgraça Prever apenas os escombros do futuro e a dor É rasgar os próprios poemas, quebrar todos os lápis, queimar todas as folhas e explodir a caixa de energia de casa. Autossabotar É construir uma armadilha que captura apenas o interior É ter as próprias digitais no pescoço e ser a testemunha de acusação e o reú. É chorar e dizer que as lágrimas salgadas Não fazem arder as feridas É tropeçar no cadarço do sapato que não quis amarrar É entrar no rio sem saber nadar Ou se afogar mesmo sabendo. Sabotar é puxar o fio vermelho das ideias do inimigo. É escrever um poema Que mata, mas que não lhe suicida. Juliana Sankofa 12/07/2018
Comentários
Postar um comentário