Se me demonizam,
Eu, a Diaba, gargalho diante do caos
Brinco de escurecer a nitidez do absurdo
de quem diz que ensina, quando machuca,
desorientando-me para que eu não alcance
os seus privilégios:
de não serem a cor do pecado,
de não ser o marginalizado
de não ter seus filhos arrancados do mundo,
sem tempo para se despedir.
Eu, a Diaba, finjo e finjo
e mesmo sendo poeta
a minha dor não vira poesia
a ser lida nas universidades
Ah, o meu corpo sobreviveu ao “descobrimento”
e vem suportando o descumprimento
de quem jurou ensinar, mas quer escravizar.
Eu, a Diaba, leio
reescrevo
padeço
Quem dera eu tivesse a força de retroceder a rotação da terra
E não estar aqui neste lugar que não é meu,
Mas que me quer sua
não como pensante-sujeito,
E sim como objeto- decrépito
que sustenta lavouras inteiras de egos de algodão.
Juliana Sankofa
Desseco a língua que eu falo. Parasitária em meu corpo desde os meus primeiros verbos. Aqui, foi tecnologia de guerra, imposta como oficial repleta de sentidos que não me humanizam: "Vamos deixar claro que a coisa está preta"; " Não vou negar o que eu fiz". Desseco com raiva, sem entender porque essa língua não sangra. Meu corpo-rebeldia dislexia a realidade. A minha língua materna nunca foi mãe nem gentil só pátria pária. Juliana Sankofa

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